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domingo, 10 de novembro de 2013

Perdemos a guerra

Má notícia para os amantes das belas-artes: seus dias (os delas) estão contados. Sim, esqueça a efervescência de novas telas, o arroubo de grandes poemas, a verve de eternas composições. Tudo isso é passado. Cabe a nós tão somente nos atermos ao legado dos gênios e mestres, não esperando nada daqui para a frente. Como disse o poeta: “o século está podre”. E esse em que estamos já nasceu em estágio avançado de putrefação. 

E não são apenas as artes que se esvaem em sangue. Os bons costumes também vão pelo mesmo caminho. Antes as pessoas lutavam para expressar sua sexualidade. Hoje elas brigam para expô-la. E do pior ponto de vista possível, sem qualquer busca por resultados justificáveis. Já não há mais idade para iniciação sexual. A inocência das crianças, antes tida como símbolo máximo da pureza, cantada em verso e prosa, caducou. Extinguiu-se. Adultos e infantes compartilham as mesmas indecências, embora essas últimas sejam dispensadas de demonstrar respeito e responsabilidade.

Essa geração, ao contrário de todas as outras, não renovou a arte. Ela a destruiu. Tem-lhe ojeriza. Os movimentos vanguardistas, que traziam em seu bojo o sopro de renovação, a ânsia por expressar seus sentimentos de outra maneira, minguaram. O que se percebe é uma apatia geral. Uma mediocridade que grassa entre os ditos artistas modernos.

E engana-se quem pensa que falo apenas da nata artística – aquela que constitui o panteão eterno da genialidade humana. Refiro-me a toda a gradação de qualidade de produções do gênero. Na literatura, há livros eternizados pelo modo como foram escritos, enquanto outros são sempre lembrados pela estória que carregam. Os livros de hoje são fáceis, não oferecem desafio intelectual algum, muito menos uma escrita elegante. E mesmo esses não encontram leitores ávidos, salvo raras exceções. As músicas populares destinadas às massas têm um muito curto prazo de validade, ao cabo do qual são totalmente esquecidas, e não há uma única frase que fique para a posteridade. Pintores não se esmeram mais. Rabiscam telas e as vendem por altos valores, ainda que não saibam do que se trata – por isso que a muitos desses quadros não foi possível ao autor dar-lhes nomes.

Não adianta rebelarmo-nos, bradar contra, achincalhar. Perdemos a guerra. Essa geração é composta de ignorantes, e na insipiência é que se sentem à vontade. Acham que construir um novo mundo é sepultar tudo o que veio antes deles. Desconhecem que toda grande nação tem por alicerce o saber dos antigos, sua herança intelectual, suas produções diversas. Eles acham que podem fazer melhor, mas o fato é que terminarão por reinventar a roda pelo simples fato de não saberem que ela já existe. Esse é simplesmente o maior retrocesso de todos os tempos.

E ai dos que se dedicam à árdura tarefa de criticar. Como uma pequena zebra em meio a leões, são perseguidos por tentarem julgar a qualidade do que se produz hoje. O liberalismo moral e estético não admite críticas. Ele apregoa que tudo o que se produz é bom, a partir de algum ponto de vista. Sob essa alforria irresponsável têm surgido toda sorte de pseudo-artistas, deturpando padrões e maculando as artes clássicas. Usam a arte, sem contudo a conhecerem ou fazerem parte dela, sem contribuírem nem um pouco com sua causa.

Mas acredito piamente nos ciclos. Creio que, assim como a rica cultura grega foi redescoberta nos anos negros da Idade Média, alguma geração futura remeterá aos grandes vultos que ora se dissipam em busca de justificativa para a humanidade. Oxalá ela possa reacender o espírito criativo e a inquietação estética que se encontra adormecida e desprezada. Enquanto isso, que ninguém se engane: perdemos a guerra, camaradas! Deixemo-nos silenciar e nos saciarmos nas poucas representações realmente verdadeiras que ainda surgem de quando em quando, tímidas, às escondidas, temendo a repreensão da turba ignorante. Desejemos sorte para os que vierem depois de nós. Que eles possam reverter esse quadro. À morte digna, companheiros!

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