Má notícia para os amantes das
belas-artes: seus dias (os delas) estão contados. Sim, esqueça a
efervescência de novas telas, o arroubo de grandes poemas, a verve
de eternas composições. Tudo isso é passado. Cabe a nós tão
somente nos atermos ao legado dos gênios e mestres, não esperando
nada daqui para a frente. Como disse o poeta: “o século está
podre”. E esse em que estamos já nasceu em estágio avançado de
putrefação.
E não são apenas as artes que se
esvaem em sangue. Os bons costumes também vão pelo mesmo caminho.
Antes as pessoas lutavam para expressar sua sexualidade. Hoje elas
brigam para expô-la. E do pior ponto de vista possível, sem
qualquer busca por resultados justificáveis. Já não há mais idade
para iniciação sexual. A inocência das crianças, antes tida como
símbolo máximo da pureza, cantada em verso e prosa, caducou.
Extinguiu-se. Adultos e infantes compartilham as mesmas indecências,
embora essas últimas sejam dispensadas de demonstrar respeito e
responsabilidade.
Essa geração, ao contrário de todas
as outras, não renovou a arte. Ela a destruiu. Tem-lhe ojeriza. Os
movimentos vanguardistas, que traziam em seu bojo o sopro de
renovação, a ânsia por expressar seus sentimentos de outra
maneira, minguaram. O que se percebe é uma apatia geral. Uma
mediocridade que grassa entre os ditos artistas modernos.
E engana-se quem pensa que falo apenas
da nata artística – aquela que constitui o panteão eterno da
genialidade humana. Refiro-me a toda a gradação de qualidade de
produções do gênero. Na literatura, há livros eternizados pelo
modo como foram escritos, enquanto outros são sempre lembrados pela
estória que carregam. Os livros de hoje são fáceis, não oferecem
desafio intelectual algum, muito menos uma escrita elegante. E mesmo
esses não encontram leitores ávidos, salvo raras exceções. As
músicas populares destinadas às massas têm um muito curto prazo de
validade, ao cabo do qual são totalmente esquecidas, e não há uma
única frase que fique para a posteridade. Pintores não se esmeram
mais. Rabiscam telas e as vendem por altos valores, ainda que não
saibam do que se trata – por isso que a muitos desses quadros não
foi possível ao autor dar-lhes nomes.
Não adianta rebelarmo-nos, bradar
contra, achincalhar. Perdemos a guerra. Essa geração é composta de
ignorantes, e na insipiência é que se sentem à vontade. Acham que
construir um novo mundo é sepultar tudo o que veio antes deles.
Desconhecem que toda grande nação tem por alicerce o saber dos
antigos, sua herança intelectual, suas produções diversas. Eles
acham que podem fazer melhor, mas o fato é que terminarão por
reinventar a roda pelo simples fato de não saberem que ela já
existe. Esse é simplesmente o maior retrocesso de todos os tempos.
E ai dos que se dedicam à árdura
tarefa de criticar. Como uma pequena zebra em meio a leões, são
perseguidos por tentarem julgar a qualidade do que se produz hoje. O
liberalismo moral e estético não admite críticas. Ele apregoa
que tudo o que se produz é bom, a partir de algum ponto de vista.
Sob essa alforria irresponsável têm surgido toda sorte de
pseudo-artistas, deturpando padrões e maculando as artes clássicas.
Usam a arte, sem contudo a conhecerem ou fazerem parte dela, sem
contribuírem nem um pouco com sua causa.
Mas acredito piamente nos ciclos.
Creio que, assim como a rica cultura grega foi redescoberta nos anos
negros da Idade Média, alguma geração futura remeterá aos grandes
vultos que ora se dissipam em busca de justificativa para a
humanidade. Oxalá ela possa reacender o espírito criativo e a
inquietação estética que se encontra adormecida e desprezada.
Enquanto isso, que ninguém se engane: perdemos a guerra, camaradas!
Deixemo-nos silenciar e nos saciarmos nas poucas representações
realmente verdadeiras que ainda surgem de quando em quando, tímidas,
às escondidas, temendo a repreensão da turba ignorante. Desejemos
sorte para os que vierem depois de nós. Que eles possam reverter
esse quadro. À morte digna, companheiros!
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