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domingo, 29 de julho de 2012

Os sem-saudade

Provavelmente a década de 80 foi a última onde as crianças foram crianças. A crescente e precoce adultização não deixa de ser preocupante, pois gera pessoas que não terão do que recordar


"Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino (...)." (Apóstolo Paulo)


Estou em casa e de repente ouço sons ao longe, trazidos pelo vento. São músicas infantis que embalaram minha infância. Não apenas a minha. É difícil encontrar alguém de minha geração que não se lembre alegremente daquelas músicas. Investigo e descubro a origem da música. Uma farmácia perto havia montado um stand a fim de vender fraldas. Com tais músicas, o apelo parece dirigir-se exclusivamente aos pais.

Quem viveu sua infância durante os anos oitenta não tem dúvida: aquela foi a década da criança. O mundo parecia curvado a nós, traduzindo sua atenção em desenhos animados, programas infantis, brinquedos os mais diversos e músicas destinadas a nós. Qual criança não começava o dia empolgada a fim de sentar diante da televisão e acompanhar a programação da manhã? Quem não suspirava de desejo durante os intervalos, ao ver os anúncios de brinquedos? Para os desafortunados que estudavam pela manhã, ao menos à tarde poderiam ver, nem que fosse no final da tarde, programas para se divertir, ainda que não voltados inteiramente para o público infantil. Sim, aquela foi a década áurea para nós.

Percebo hoje que aqueles são tempos idos. A atual geração – e em menos extensão a anterior – se furtou à infância. Os melhores anos da vida duraram pouco. Descoloriram o mundo cedo e dispensaram a inocência sem remorso. A ausência de interesse por parte da indústria de entretenimento empurrou-os para a vida adulta. Os pais, querendo se ver livres da obrigação de sustentar um mundo à parte para suas crianças, decidiram compartilhar o mundo real com elas. Até as festas de aniversários são feitas à noite, a fim de engatarem uma festa adulta mais tarde. Vejo esse fato com bastante reserva.

Sempre me questiono se essa geração terá saudades. Veem os mesmos filmes que os adultos (inclusive as animações são plenamente entendidas apenas pelos adultos), ouvem as mesmas músicas que os jovens, frequentam os mesmos lugares que gente grande, vencem os mais velhos nos jogos eletrônicos, usam gírias dos que têm mais idade. Do que terão saudade? Não haverá um mundo que deixarão pra trás e se recordarão um dia. Não haverá o que guardar como recordação, algo que ninguém saberá e que se tentará esconder. Algo em que se refugie em um momento nostálgico. Em nenhum momento deixarão de fazer o que fazem e partirão para novas experiências. Tudo será apenas uma continuação do cotidiano. O mundo hoje corre a um ritmo alucinante. Naquela época personagens de filmes e desenhos ficavam conhecidos tanto por crianças como por adultos – e sobrevivem até hoje. Antes os músicos buscavam cada um seu lugar ao sol através de sua identidade. Hoje, quando um modelo dá certo, logo segue-se uma profusão de cópias que termina por ofuscar o primeiro e todos logo esquecem como tudo começou. A cada mês há uma novidade diferente, e o velho, outrora guardado com carinho, agora é menosprezado com repugnância (até mesmo porque a música atual é destituída de essência. Não passa de um amontoado de grunhidos, ganidos e um batuque qualquer).

Antes as garotas tinham problemas com o primeiro sutiã. Hoje pré-adolescentes fazem sexo com homens adultos com a aprovação dos pais. Crianças com meia década de vida frequentam salões, e não é para acompanhar as mães, mas para submeterem-se aos mesmos tratamentos das demais mulheres. Antes os meninos brincavam de ser homem. Agora entram em coma alcoolico durante a puberdade – e muitas meninas também.

Não à toa alguns recentes movimentos musicais que resgatam a infantilidade dos pequenos têm ganho projeção – embora nem se compare ao sucesso de antigamente. Há uma lacuna nesse mercado que sempre irá existir. Um dos últimos remanescentes de programação infantil na rede aberta de televisão – que capengava no quesito esmero – foi substituído por um programa de variedades, relegando de vez o público infantil ao léu.

Embora não seja incomum vermos as músicas de nossa infância tocando em festas de crianças, aquela é uma infância que não lhes pertence. Podem conhecer a música, mas não viram o programa, não compraram o brinquedo, não colaram figurinhas no álbum. São personagens distantes, sem feições. Mas nós tivemos a felicidade de termos sido crianças completas, com seu mundo, com sua música, com seus brinquedos, brincadeiras e desenhos. Não à toa as festas anos oitenta são um sucesso. Somos a geração-saudade.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Homem e sua evolução (?)

O que chamamos de evolução do homem na verdade não passa de uma base  de apoio constituída de cultura, sem a qual ele retorna a sua condição primitiva

Propala-se que o Homem tem evoluído ao longo dos séculos. Diz-se que saiu do estado selvagem para a vida em sociedades organizadas como a nossa; que tornou-se culto e inteligente em contraste com o primata atrasado e ignorante de outrora. Criamos os cultos, as leis, as máquinas. Alteramos a Natureza – o curso dos rios, as formas dos frutos, a estrutura molecular. Mas será que estamos contando a história direito? Ou esse é o ponto de vista dos que se pegam deslumbrados com o progresso da raça humana? 

Talvez os fatos não se ponham dessa forma. Podemos dizer que o homem primitivo, ao principiar a descoberta da Ciência – mola propulsora de tudo quanto há, juntamente com a Arte –, percebeu um caminho a trilhar, um monte a galgar. Mas, estranhamente, ele era o responsável por construir o caminho e erguer o monte. Começou a produção do conhecimento. O modo de vida sofreu impactantes mudanças desde então: a cultura, as regras de convivência na comunidade, a comunicação.

No entanto, parecem não ter sido suficientes tantas descobertas, tantos avanços feitos em direção à modernidade e à civilização. Periodicamente irrompem hecatombes em algum lugar do mundo, provocando mortes, dor e sofrimento. É a natureza selvagem do Homem que se agita em seu interior. Vestida em seu denso sobretudo de civilidade, aflora à superfície para mostrar a condição inata da raça. A cada vez que isso ocorre, as desgraças são potencialmente maiores, pois o conhecimento produzido entre uma e outra "erupção" é utilizado como arma. É o Homem que se despe das aparências; da evolução que não ocorreu no seu interior, mas no ambiente em que vive. Vemos atualmente a tentativa de “civilizar” os conflitos, através de novas tecnologias que permitem matar mais e melhor. É o Homem em busca de apagar os vestígios de sua índole, seu rastro na História.

O Homem não evoluiu. É o mesmo que, há muitos séculos, tomou a empresa de construir uma estrada, galgar um monte. Atualmente, já vai bem longe, bem alto, mas intimamente é o mesmo. A transformação ocorreu em seus hábitos, que deram vez a atos mais comedidos; os atos brutais, esses adormeceram no interior da alma humana, aguardando sempre a época de despertar de maneira cataclísmica. Basta apenas que a estrada suma sob seus pés, ou o monte o qual encima perca sua base, para que se veja reduzido à condição primitiva, em disputas com seus semelhantes, destruindo seus irmãos. É o que acontece em grupos isolados, "primitivos", no centro de uma grande metrópole, formados por pessoas sem acesso à educação, cultura e aos meios de vida da sociedade moderna. O Homem construiu um andaime rumo ao céu, de onde olha com altivez o caminho percorrido até aquele ponto, e continua a percorrer o andaime que vai ele próprio erigindo. Mas não o fará indefinidamente. Aquele ruirá com seu próprio peso e o Homem amargará o retorno às origens após ter ido tão longe. As línguas serão novamente confundidas.

domingo, 22 de julho de 2012

Duas moças na janela


Duas moças na janela
Uma mais nova
Outra mais velha
Duas moças na janela
Uma é bonita
A outra é bela
Duas moças na janela
Juntas olhando
A rua de pedras
Duas moças na janela
Riem baixinho
Em sua conversa
Duas moças na janela
São tão perfeitas
Como uma tela
Duas moças na janela
Tão inocentes
Tal qual quimera
Duas moças na janela
São tão unidas
Uma e aquela
Duas moças na janela
Se tu não sabes
Amo uma delas
Duas moças na janela
Têm um segredo –
Elas se amam
Ai quem me dera!

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Sugestão de leitura


Título: Guia Politicamente Incorreto da Filosofia
Autor: Luiz Felipe Pondé
Editora: LeYa
ISBN: 978-85-8044-438-4








De uns tempos pra cá o mundo tem ficado muito chato. Há uma série de coisas que não se pode dizer, ainda que sejam verdade. Não podemos falar a verdade sobre as mulheres, não podemos dizer que as pessoas tem capacidades diferentes ou que o povo (a massa) simplesmente é burra.

Felizmente as pessoas de bom senso podem contar com uma voz aliada. Luiz Felipe Pondé, em seu livro Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, expõe várias armadilhas que a onda politicamente correta tratou de espalhar nesses últimos anos. Sem papas na língua, ele afirma que “alguns poucos homens são melhores que a maioria”, que “a mediocridade anda em bando, e a democracia ama os medíocres”, que o homem é mau por natureza, e não pela contaminação de uma sociedade que o degenera. Critica também o feminismo cego praticado por muitas mulheres. Cita os falsos moralistas que adoram posar de bom moço para com os “excluídos”, desde que estejam bem longe, e os artistas atuais que inventam quadros para os quais nem conseguem dar nomes simplesmente pelo fato de que não significam nada para ninguém, nem mesmo para eles. Não ficam de fora as pessoas metidas a chiques, que gostam de afirmar que são budistas, embora resumam isso a uma dieta da moda e duas ou três atitudes sustentáveis, e as atuais músicas baianas, que, apesar de sustentadas por um viés afro, estão longe de contribuir para o orgulho negro.

Guia Politicamente Incorreto da Filosofia é para aqueles que estão indignados com o mundo da forma que está hoje, mergulhado na hipocrisia e na falsa moral. Quem acha que ele está bom desse jeito, deve permanecer nesse parvo enlevo. De igual modo, os militantes fanáticos por causas frouxas devem passar ao largo da obra.


Seguem alguns trechos do livro:

"Na maioria dos casos, professores de universidade (ou não) são pessoas que, além de não gostar dos alunos, tem uma inteligência mediana e foram, quando jovens, alunos medíocres, que fizeram ciências humanas porque sempre foi fácil entrar na faculdade em cursos de ciências humanas. Claro que quase todos pensavam em si mesmos como Marx ou Freud ainda não revelados. Ao final, o que se revela com mais frequência é alguém fracassado que ganha mal e odeia os alunos. Professores normalmente não gostam de ler ou de estudar, mas dizem que esse pecado é apenas dos alunos. Há um enorme sofrimento na maioria dos professores porque tem de fingir o tempo todo que acreditam na importância do que fazem."

"Há uma pitada de mau-caratismo no feminismo e provavelmente porque suas líderes são, em grande maioria, feias e mal-amadas e por isso querem um mundo feio e infeliz para se sentir mais em casa."
 
"O 'povo' é sempre opressor (…). Mesmo na Bíblia, quando os profetas de Israel criticavam os poderosos, também criticavam o 'povo', que nunca foi heroi de nada. (…) O povo é sempre opressor. Quando aparece politicamente, é para quebrar coisas. O povo adere fácil e descaradamente (…) a toda forma de totalitarismo. Se der comida, casa e hospital, o povo faz qualquer coisa que você pedir. Confiar no povo como regulador da democracia é confiar nos bons modos de um leão à mesa."

sábado, 14 de julho de 2012

Os metidos e as viagens

Muita gente gosta de aparecer porque faz viagem internacional, mas são tão pobres culturalmente que nem conseguem aproveitar o passeio


Certa feita li uma entrevista em um desses suplementos de jornais que trazia uma entrevista com um professor universitário. À pergunta sobre qual seu destino preferido nas férias, ele informou o nome de três cidades americanas bem conhecidas, arrematando com “ambas nos Estados Unidos”.

Bem, talvez ele tenha se equivocado, ou quem sabe o repórter tenha alterado sua resposta, ou ainda ele realmente não soubesse que o numeral (isso mesmo) “ambos” refere-se a dois termos, e não a três. Há quem defenda que, por não ser um profissional da área de linguística, não se deve cobrar esse conhecimento. É verdade que nem todo falante deve conhecer as entranhas de seu idioma (como saber que “bastantes” existe ou não franzir o cenho ao ver palavras como gâmbia, édulo, procrastinar, escol), mas é surpreendente que pessoas de um considerável nível social (e aparentemente cultural) desconheçam simplicidades da língua materna.

Mas não é sobre idiomas que quero chamar a atenção. Embora talvez não seja o caso do professor da entrevista, a verdade é que há muita gente que faz questão de se exibir pelo fato de conhecer lugares ditos prestigiados, como a América Anglo-Saxônica ou a Europa. Mas a maior verdade é que, visitando esses lugares, apenas conseguem contrastar a vasta cultura de outros povos com sua incrível ignorância. Adoram passear em civilizações avançadas e supõem-se também avançados, mas no fundo não passam de bichos na cidade grande.

Longe de mim defender que não devemos viajar para os países desenvolvidos. Pelo contrário, todos que puderem devem ir a fim de constatarem o quanto somos atrasados e ao menos uma vez na vida ver de perto o que é desenvolvimento, uma vez que nem em mil anos o Brasil será um país civilizado. O que não suporto são pessoas que posam de intelectuais porque “conhecem” a Europa ou os Estados Unidos. Na verdade eles apenas fogem de sua própria ignorância, mas esquecem-se que esta está dentro deles mesmos. São pessoas que se encantam com as ruas limpas desses lugares, mas não pensam duas vezes antes de jogar lixo na rua da cidade onde moram. São pessoas que nem tem cultura e conhecimento suficiente para apreciar as culturas de outros países. São pessoas que elogiam os bons modos dos estrangeiros, mas destratam o porteiro de seu prédio. Adoram a cultura internacional, mas são incapazes de ler um livro. São pessoas que visitam os pontos turísticos óbvios, pois não tem condição alguma de, segundo seus próprios critérios, escolher e avaliar um lugar de sua preferência. São pessoas que desprezam qualquer viagem dentro do país e acham que só lá fora há o que se ver. O fato é que eles carecem de disfarçar sua falta de intelectualidade, cobrindo-se de viagens chiques.

Se você é um desses, que adora colher o fruto do pé, mas detesta plantar a árvore, saiba que só contribui para a perpetuação do atraso brasileiro. E lembre-se: para os verdadeiramente entendidos, qualquer lugar é interessante.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Ser jovem

Se é para ser jovem como muitos por aí que tem uma juventude de cinco anos de duração, prefiro ser chamado de velho

Há pouco tempo alguém me perguntou se eu iria para uma dessas festas (melhor dizendo, ajuntamento) populares, onde todo mundo se acotovela, não consegue dançar e anda arrastando os pés para não perder o espaço no chão. Respondi que não, e ouvi em resposta que não sou jovem. Bem...

Sim, concordo que não estou na idade dos que beiram os vinte anos, pouco mais ou menos. Estou no início de minha terceira década de vida. Coisas que eram interessantes e/ou divertidas há doze anos deixaram de ser, ao passo que outras que não queria perto agora são chegadas. Mudamos nossas ações com o tempo, mas o que permanece é o espírito. A propósito, não é comum hoje em dia aquela corrente de que o que deve permanecer jovem é o espírito? Mas o fato de terem me chamado de idoso talvez careça de uma melhor observação.

O que a maioria das pessoas entende por ser jovem? Parece-me que muitos entendem que ser jovem é dormir durante o dia (a menos quando não se está angariando um câncer de pele na praia), acordar à noite, atravessá-la em baladas, perder a consciência na embriaguez do álcool e chegar em casa maltrapilho na manhã seguinte. Talvez essa visão esteja correta. E também talvez seja por isso que o Brasil nunca conseguiu ser o país do futuro como previsto.

Naturalmente, esse é um programa que interessa a muitos jovens, movidos e guiados unicamente por seus hormônios. Em todos os lugares do mundo isso ocorre, o que denota que, a despeito de um padrão cultural, pode indiciar uma característica da natureza humana. Tudo bem, uns tempos de loucura são permitidos a todos. Minha, digamos, indignação, é com aqueles que limitam ser jovem a uma vida de atitudes inconsequentes. Não tem interesse por nada, apenas por frivolidades. Desrespeitam os mais velhos, aborrecem os mais novos. Imaginam que o mundo amanhã não lhes cobrará nada.

O engraçado é que a maioria desses jovens estarão aposentados aos vinte e cinco anos. Casarão, se acomodarão na poltrona, verão mais televisão, dormirão cedo para fazer o grande esforço de acordar também cedo para ir trabalhar. Passarão bastante tempo em casa, os amigos ficarão distantes, a rua tornar-se-á uma companhia estranha. Os dias de glória se situarão no período entre os quartorze e vinte e poucos anos. Não esperarão mais nada da vida, a não ser se aposentar.

Particularmente, não me troco por jovens desse naipe. Apesar da idade, tenho me dedicado a algumas atividades de meu interesse. Por falta de tempo, algumas estão adiadas. Estudo dois idiomas, pratico atividades físicas (malhação, pilates, corrida – procurando uma brecha para a natação), curso uma segunda faculdade, tenho um emprego de oito horas diárias, leio livros, toco um instrumento, dedico-me à fotografia, faço trilhas sempre que posso, mantenho esse blog. Apesar de ser voluntário em um grupo na empresa onde trabalho, estou trabalhando em um projeto especial relacionado a algo com o qual me preocupo. Ainda tenho outros projetos em gestação. Enquanto muitos temem a aposentadoria por não saberem o que fazer naqueles tempos, eu já tenho várias ideias em mente.

Ao contrário de muitos jovens que, para se divertirem, precisam de drogas (álcool também está nessa categoria) e coisas do gênero, consigo encontrar prazer nas pequenas coisas. Uma amizade sincera, uma música bonita, uma boa leitura, uma bela paisagem. Não preciso esperar o carnaval para ser feliz uma vez por ano. Não tenho que aguardar as festas juninas para me divertir. Dispenso perder uma noite de sono em festas onde ninguém consegue se ouvir. Posso me sentir bem durante todo o ano, sem depender de nada, sem a ajuda de festa alguma, de nenhum evento.

Se nada disso traduz ter um espírito jovem, então renuncio meu anseio de juventude e aceito de bom grado meu título de decrépito.

domingo, 8 de julho de 2012

Gorda ou magra?

Até que ponto é razoável admitir que os supostos padrões de beleza ditados pela indústria da moda afetem as vidas das mulheres normais?

Uma revista de grande circulação nacional trouxe por esses dias uma reportagem de capa a respeito do “triunfo dos gordinhos”. De acordo com a revista, eles vem ganhando espaço em todos os meios, tanto artísticos como os de moda. Também afirmam que o padrão de beleza já não é o de mulheres magérrimas, mas de mulheres normais... Espera aí! Mas quando foi que mulheres esqueléticas foram padrão de beleza?

Não sei em que momento da história da moda alguém (uma pessoa ridícula, decerto) entendeu e definiu que modelos deveriam ser extremamente magras (e altas). O mais estranho é que isso pegou. A partir daí, mulheres ingênuas passaram a buscar as formas esquálidas daquelas escravas do mundo fashion
 
Uma questão fundamental em qualquer discussão é a definição de conceitos. O que é ser magra? Para a maioria das mulheres, ser magra é não ser gorda. Nessa definição, colocam no mesmo balaio tanto mulheres que são levadas pelo vento como as fanáticas por malhação. Por tratar-se de um conceito relativo, resta saber o que é ser gorda. Para muitas, ser gorda é ter mais de quarenta quilos. Meninas, isso não existe!

Questão básica: para quem as mulheres querem ser bonitas? Para elas mesmas ou para os outros? Independentemente da resposta, pessoas querem ser bonitas para se sentirem bem – por mais que você não goste, sim, a vida dos bonitos é mais fácil. Mas o que muitas conseguem perseguindo corpos retilíneos é encontrar depressão, tristeza, insatisfação com seus corpos. Essa é você tentando buscar a felicidade pŕopria baseada na alheia. Que tal medir como você é bonita para os outros?

Algo que melhora em muito a autoestima é saber que os outros acham você bonito. Nesse quesito, os homens podem ser um poço de alegria para as mulheres. Você pode estar se lamentando pelos dois quilos que ganhou, mas, que importa? Eles nem vão perceber. E, caso percebam, não vão estar nem aí. Você pode estar triste porque não tem cinco centímetros a mais de altura. E daí? Não vai faltar quem te elogie por outros atributos. Seja lá qual for seu tipo físico (mesmo as muitíssimo magras), sempre haverá quem tenha apreciação por ele. Talvez você devesse ouvir mais a opinião sincera dessas pesoas do que dar ouvidos a figurões que ditam padrões de beleza irreais que hoje são e amanhã podem não ser. Basta lembrar que Cindy Crawford, que já foi uma das maiores modelos do mundo, hoje não seria aceita nem no mais simples cortiço fashion.

Dizer que o padrão de beleza é imutável seria uma inverdade. Preferências mudam com o tempo, mas não é por imposição de um grupo de pessoas que isso ocorre. Apesar de todo o apelo pela magreza (quando falo de magreza, falo realmente de mulheres do porte das atuais modelos), você nunca vai ver um pôster da modelo mais famosa do mundo dependurado em uma borracharia. E sabe por quê? Porque aquele tipo não é a preferência (ao menos atualmente) do público masculino. Se soltarem uma dúzia de modelos em uma festa, certamente elas não serão as mais cantadas. E sabe por quê? Porque você, mulher comum, ainda é nossa preferência.


Muitas pessoas falam em preconceito contra pessoas acima do peso. É verdade que isso existe, mas não é esse o caso de a maioria dos homens preferirem as mulheres de curvas bem definidas. Sem dúvida há um componente cultural na formação do apreço por um determinado padrão físico, mas isso é determinado na infância, e, após isso, é pouco propenso a mudanças. Ao menos, não aos sabores da moda. É tão internalizado que apenas um vulto sugere atração ou repulsa, inconscientemente.


PS: Apenas um lembrete para as garotas que fazem o ponteiro da balança subir: você pode estar feliz com sua aparência, só não descuide da saúde. A obesidade está associada a diversos males ao corpo.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Sugestão de leitura




 Título: Uma Vida sem Limites
 Autor: Nick Vujicic
 Editora: Editora Novo Conceito
 ISBN: 9788563219428








Talvez você já tenha visto um de seus vídeos na Internet (ou recebeu por e-mail). Nick Vujicic (pronuncia-se Vuichich) nasceu sem braços e sem pernas devido a uma rara deficiência. Possui apenas dois pequenos pés, com alguns dedos. Apesar de ter (ou não ter) tudo para ser infeliz, Nick tenta ao máximo viver como uma pessoa normal.

Talvez você, que tem braços e pernas normais, não tenha feito metade das coisas que Nick fez. Ele é percussionista (chegou a reger um côro), nadador (já mergulhou inclusive no oceano, com scuba), surfista (apareceu em uma revista internacional de surf), formado com bidiplomação, fundador de uma organização sem fins lucrativos voltada para pessoas sem membros (Life Without Limbs – Vida sem Membros), pregador e palestrante motivacional (já visitou diversos países), além de outros projetos pessoais, como uma parceria com seu tio para produzir um determinado tipo de bicicleta.

Além dessas atividades, Nick fez coisas simples, mas impensáveis para alguém com sua deficiência, como brigar na escola, pescar, jogar bola, usar telefone e controles remotos, dentre outras. Ele e sua família também criaram maneiras de ele ser independente, podendo assim tomar banho sozinho, usar o banheiro, vestir-se.

Um dos feitos de Nick é o livro Uma Vida sem Limites, onde narra sua história, entremeada com conselhos, admoestações motivacionais e reflexões religiosas. Esse livro pode ser lido de três maneiras: como uma narrativa da história do autor, como um livro de auto-ajuda, ou ainda como um livro religioso (uma vez que Nick é cristão e expressa isso durante todo o livro).

A vida de Nick não foi fácil. Nem a de sua família. Desde o fato de sua mãe não querer segurá-lo na maternidade, até o fato de crescer sempre cercado de cuidados. Nick teve vários momentos de depressão, desespero e revolta. Algumas vezes, cogitou inclusive o suicídio. Mas com o tempo ele conseguiu enxergar sua vida através de outro ângulo, aceitando sua deficiência, procurando sua missão nessa vida e decidindo compartilhar suas experiências de fé e esperança com outras pessoas.

Diferente de outros livros de gurus da auto-ajuda, que repetem conselhos antigos com novas palavras (às vezes, nem isso), Nick tem a seu favor o fato de, mesmo sem membros, ter desenvolvido um viver pleno dentro de suas capacidades (ou além?). O livro é um relato de como ele conseguiu chegar lá. Mesmo não se atendo às passagens de aconselhamento, é inevitável, ao lermos sua história, não nos perguntarmos: e se fosse comigo? Será que eu conseguiria agir da mesma maneira? Ou pensarmos: se ele consegue fazer tudo isso nessas condições, do que eu não sou capaz?

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Ainda ontem

Ainda ontem éramos crianças
atirando dentes-de-leite ao telhado das casas
Hoje somos pais e tios
cuidando da dentição dos pequenos
Ainda ontem tínhamos ídolos e heróis
e queríamos um dia ser como eles
Hoje há pequenas pessoas
que nos admiram e em nós se espelham
Ainda ontem brincávamos de roda
felizes nas ruas tranquilas
Hoje nos escondemos em casa
fugindo de pessoas más
Ainda ontem comiam todos à mesa
contando amenidades da vida
Hoje nos isolamos em cantos
cultivando cada qual sua solidão
Ainda ontem pedíamos a bênção aos pais
em obediência sem escolha
Hoje há pródigas afrontas
de uma geração alheia ao respeito
Ainda ontem éramos inocentes
descobrindo aos poucos a realidade
Hoje procuramos crianças ingênuas
e a custo as encontramos
Ainda ontem cultivávamos o pudor
escolhendo com cuidado a quem revelar nossa intimidade
Hoje visitamos eventos públicos
onda a promiscuidade é gratuita
Ainda ontem não nos preocupávamos com o tempo
que escorria deliciosamente devagar
Hoje nos espantamos deveras
com a brevidade dos dias
Ainda ontem tínhamos medo do futuro
e escolhíamos o que ser quando crescer
Hoje somos todos profissionais
se dilacerando na competição diária
Ainda ontem acreditávamos nas pessoas
cuidavam nossas casas e nossos filhos
Hoje apenas desconfiamos
e a ninguém temos coragem de entregar nada
Ainda ontem acreditávamos no amor
embalados pelos contos dos antigos
Hoje cada vez mais descobrimos
que esse próprio sentimento parece uma lenda
Ainda ontem... Não sei...
Hoje... Quem sabe...