Por mais que queiramos fazer os jovens
entenderem a brevidade do tempo e aprender a lidarem com ele, esse é
um esforço um tanto quanto inglório. Há coisas que só o tempo
traz, e a própria percepção de sua passagem só é percebida
quando estamos há algum tempo nesse mundo. O jovem que se pega
pensando na atividade do tempo tem uma dimensão diferente da que têm
seus pais e avós. Para o jovem rapaz, observar a ação do tempo é
antes motivo de alegria que de reflexão. Ele notará seus amigos que
eram tenros e agora são jovens fortes e que conseguem realizar
grandes feitos. Verá com satisfação as meninas antes desajeitadas
se transformarem em dignas herdeiras de Eva, assim como as pequenas
princesas alcançarem a perfeição. Ele se alegrará da liberdade
alcançada, do vento no rosto e nos cabelos durante as corridas de
aventura, do nascer e do pôr-do-sol, dos amores juvenis, do coração
jovem que pulsa e do mundo que ora se assemelha a um animal bravio
destinado a ser montado. Mas essa é apenas uma faceta do tempo...
Já estou na idade em que se começa a
repensar nosso conceito de tempo. A idade em que deixamos de apreciar
a construção das coisas para nos concentrarmos em como definham
lentamente. Em que o auge se converte em lembrança, e o declínio é
a verdade que se revela. Peguei-me pensando nessas coisas ao
reconhecer, em uma rede social, a foto de uma antiga conhecida da
adolescência. A bem da verdade, espantei-me. Seria difícil ter
reação diferente ao se dar conta de como uma pessoa tão bela
sofreu imensamente com o aglutinar dos anos, perdendo toda a aura que
a cercava. Não sei se tal mudança se deu por motivo de doença ou
outra vicissitude da vida. O fato é que a pessoa cuja foto observava
abismado era agora outra. Se contasse, não acreditariam em como já
foi admirada e disputada. Mas o fato é que foi.
É o tempo quem vai sepultando fatos,
ideias, convicções, feitos, erros, equívocos, glória, justiças e
injustiças. É dele a chave que dá e tira o valor das coisas. Com o
avanço do tempo aprendemos como deveríamos ter lidado com ele, mas
essa lição é difícil de ensinar aos mais novos, afoitos que os
anos se passem depressa para lhes trazerem a idade de realizarem
coisas. As fotos então têm seu valor aumentado em muito: contam
causos, remedeiam a memória, encarnam finados e trazem para perto os
que moram longe.
O tempo é o artífice que nos molda o
rosto de barro, conforme seu humor. Há aqueles que conservam em
todas as idades os belos traços, ajudando nas previsões futuras de
como a criança chamará a atenção quando crescida, bem como nas
retroativas, que investigam quanta beleza havia na juventude.
Igualmente, há os que padecem durante toda a vida da má vontade de
nosso escultor, sendo obrigados a confiar a outros instintos e
qualidades a conquista de um parceiro e obséquios. Mas aposto que a
maioria dos mortais vive mesmo é de fases. Há tempos em que são
visitados pela harmoniosa simetria das partes, conferindo-lhes clara
vantagem de aparência, e há tempos em que são abandonados pelo
motor da perdição de Narciso. É como um ensinamento de que se deve
aproveitar cada fase, nem se vangloriando nem se menosprezando, pois
haverá o tempo de ouvir elogios e a época de apreciar sua raridade.
É pois, isso, o tempo. Feliz daquele
que compreender essas coisas em seu tempo devido, para não lamentar
ou se tornar ansioso inapropriadamente. Ser chamado de sábio ou
néscio disso depende. Mas continuemos tentando incultir nos mais
jovens o respeito por esse que nos levanta e nos rebaixa. E guardemos
as fotos a fim de que possamos futuramente fazer um balanço de sua
passagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário