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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Sugestão de leitura



Título: Ciência Picareta
Autor: Ben Goldacre
Editora: Civilização Brasileira
ISBN: 978-85-200-1063-1








A ciência é uma das poucas unanimidades que existe – a despeito de sua rivalidade com a religião. Quer validar uma teoria? Investigue-a através dos métodos científicos. Quer chancelar um argumento? Cite artigos e experimentos científicos que o corroborem. Quer combater o que quer que seja? Recorra a um cientista para auxiliá-lo. Mas o fato é que temos uma visão pueril desse universo, que nos chega em fragmentos – através de citações em revistas – ou caricaturas – através de produções de entretenimento. Mas o fato, que poucos sabem, é que a ciência é feita por pessoas tão humanas quanto qualquer um de nós, com falhas, defeitos, visões excêntricas de mundo, ganância, orgulho, imperícia, incompetência, podendo gerar, através de seus estudos, resultados questionáveis. Por esse motivo, torna-se importante selecionar o que é boa ciência e o que não é.

Para as pessoas comuns, sem intimidade com o modus operandi da ciência, o livro Ciência Picareta, de Ben Goldacre, oferece um passeio pelos principais aspectos que devem ser analisados ao nos defrontarmos com divulgações, na mídia, de novidades da ciência uma leitura leve e agradável. O cidadão mais perspicaz deve ter notado, nesses últimos anos, uma sucessão de fatos contraditórios alardeados pela mídia de massa, alegando tratarem-se de evidências científicas. Bons exemplos disso são o café e o ovo, ora rechaçados pelos nutricionistas, ora celebrados como benéficos. A propósito, o ramo da nutrição (ou nutricionismo, em tom pejorativo adotado no livro) é fartamente criticado por Goldacre, uma vez que na Inglaterra, onde vive, essa não é uma profissão regulamentada, o que permite surgir todo tipo de charlatão reivindicando para si esse título. A mídia é também especialmente atacada pelo autor, pois é, segundo ele, a principal responsável pela má divulgação da ciência entre o público leigo.

Mas não apenas de vilões se constitui o livro. Ele apresenta os principais métodos científicos de pesquisa e os critérios frequentemente utilizados para avaliar resultados e determinar se um dado estudo é válido ou não. Conceitos de pesquisa usando caso-controle, estudo de grupo, duplo-cego, revisão por pares, entre outros, são ilustrados com casos reais, destrinchados nos mínimos detalhes pelo autor – que também é professor universitário de métodos de pesquisa científica. Para isso, não se furta a fornecer detalhes dos cientistas (ou pseudo-cientistas) investigados por ele, como artigos já publicados e universidades onde estudou ou empresas para as quais já trabalhou. Ele também fornece elementos que por vezes comprometem resultados aparentemente promissores, como redução à média, formulação de hipótese antes da análise, falhas de seleção de espaço amostral e método estatístico, entre outros.

Goldacre discorre sobre fatos divulgados constantemente por jornalistas e aceitos por todos como verdades comprovadas, mas que na verdade não passam de estudos controversos ou exagero da mídia objetivando produzir destaques para as capas de seus periódicos. É o caso da vitamina C como cura da gripe, da ingestão de antioxidantes no combate aos radicais livres, da reposição hormonal, da ingestão de suplementos vitamínicos e da homeopatia – outro tema criticado durante todo o livro. Casos mais graves, como a afirmação de que foi a mídia não-especializada que descobriu e deu conhecimento ao fato da má formação gênica produzida pela ingestão da substância talidomida por gestantes, a suspensão de remédios anti-HIV na África por autoridades influenciadas pela ideia de que a medicação é que os tornava doentes, e a associação entre a vacina tríplice-viral e casos de autismo também são abordadas no livro.

A principal contribuição do livro é mostrar que cientistas nem sempre são pessoas isentas, principalmente se financiados por instituições farmacêuticas ávidas por vender seus produtos, ou recrutados pela mídia para produzir alegações que suportem manchetes bombásticas. É essa a fórmula que produz muito do que lemos em revistas leigas de ciência, infelizmente. Mas o leitor atento de Ciência Picareta perceberá com outros olhos os supostos furos jornalísticos que se propõem a divulgar uma mais nova descoberta científica, estando imunizado contra bobagens sem sentido.

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