Serão as novas manifestações feministas um movimento sólido ou apenas frustração por parte das jovens que não puderam participar do movimento original?
Há alguns meses, o mundo assistiu ao
movimento conhecido como Marcha das Vadias (slutwalk,
em inglês). Em diversos países (e várias cidades
brasileiras), mulheres foram às ruas em passeatas, protestando por
seus direitos, algumas vestidas sumariamente, outras com cartazes. O
evento Rio+20 também presenciou manifestações do público
feminino. O tom foram os seios à mostra, semelhante aos protestos
das loiras europeias que resolveram tirar a roupa a fim de chamar a
atenção para sua causa (movimento Femen, de origem ucraniana).
Essas manifestações compõem o novo feminismo, idealizado por
jovens mulheres que, em vez de queimar sutiãs, preferem simplesmente
tirá-los. Mas qual bandeira elas defendem?
O primeiro movimento feminista tinha
objetivos claros. Defendia a liberação do voto para as mulheres,
garantia constitucional de sua autonomia enquanto pessoa, igualdade
de condições de trabalho. Elas queriam dignidade e respeito. Ter a
decisão de escolher seu próprio caminho. Podemos dizer que sua luta
vingou. Hoje as mulheres estão em pé de igualdade com os homens. Em
algumas áreas, elas dominam. Elas dispõem de praticamente todas as
ferramentas para fazer valer sua independência e liberdade, direitos
e deveres. Tanto que alguns até sentem um leve preconceito contra as
mulheres que optam por serem donas-de-casa1. A maioria de
suas conquistas se deu através da promulgação de leis que
garantiram esses instrumentos para execução de seus anseios. Nesse
ponto, a imagem do novo feminismo se turva. Sem foco, suas
manifestações não produzem ação alguma ou não incumbem ninguém
de algo. Sem produzir algo concreto, seus gritos tornam-se palavras
ao vento.
As reivindicações das novas
feministas são muitas – a exemplo do Movimento Sem-Terra
brasileiro que, de movimento rural formado por trabalhadores do campo
que não tinham onde plantar, evoluiu para entidade de ideologia e
manobra políticas. Extendem-se desde o fim da violência contra a
mulher até a cassação de políticos corruptos. Não é preciso
muito para percebermos que alguns desses protestos não precisam ser
feitos necessariamente por mulheres, mas por qualquer turba
revoltada.
A Marcha das Vadias teve início no
Canadá, por um grupo de mulheres que se indignaram ao ouvir de um
policial que deveriam ter cautela quanto às roupas que deveriam
usar, a fim de evitarem ser molestadas ou estupradas. Se foi
discriminação ou recomendação cuidadosa nunca iremos saber, mas
isso me lembra o fato de um famoso da televisão brasileira que há
alguns anos fez muito barulho por ter seu Rolex roubado enquanto
andava com ele à mostra em uma cidade passível de assalto – e foi
extremamente criticado por haver protestado. Absurdo? Sim, claro.
Ninguém deve ser assaltado apenas por possuir um relógio caro. Mas
convenhamos, sabemos que o mundo é mau e sabemos também que há
lugares e lugares, então por que facilitar a violência? Embora as
estatísticas mostrem que as principais vítimas de estupro não são
escolhidas pela sensualidade, ter cuidado ao escolher o que usar de
acordo com aonde se deseja ir nunca é demais. Desafiar o meio,
expondo-se a riscos, apenas por acreditar que a realidade deva ser
diferente, nem sempre é o melhor caminho. A menos que se esteja
pronto para aceitar as possíveis consequências.
Até agora não consegui entender qual
o alvo dos protestos das novas feministas. Os homens? A sociedade? O
mundo? O universo? Deus? Será que defendem que tudo no mundo é mau,
menos as mulheres? Será que se trata de um movimento sólido ou
apenas uma expressão de mulheres eternamente insatisfeitas?
(semelhante aos movimentos estudantis,compostos pelos alunos que
menos estudam) A bem da verdade, o maior protesto das mulheres
deveria ser contra elas mesmas. Os meios, os recursos, as ferramentas
que as permitem exercer a plenitude de sua cidadania estão
disponíveis (tanto que houve delegações nas Olimpíadas de Londres
onde havia mais atletas femininas que masculinos; também é notável
o número crescente de mulheres bateristas, como Vera Figueiredo,
reconhecida no Brasil inteiro). O problema é que nem todas sabem (ou
querem) usá-los. Há discriminação contra as mulheres? Sim, há.
Situações difíceis são impostas a elas? Sem dúvida. Mas devemos
atentar que elas não são o único grupo discriminado na sociedade.
A abolição da escravatura se deu há mais de cento e vinte anos e
ainda é visível a herança deletéria daquele período. Minorias de
povos remanescentes em países como Espanha, Irlanda e Iraque lutam
há décadas por reconhecimento. O feminismo atingiu seu auge há
menos de cinquenta anos. É natural que ainda haja muito por fazer,
mas, comparativamente, foi o movimento mais bem-sucedido de que se
tem notícia.
Acredito que a maior parcela de
contribuição para a melhora da situação da mulher na sociedade
está nas mãos delas mesmas. Por exemplo, algo que são contra é a
“mercantilização do corpo” – o que é isso? Vou assumir aqui
que se trata da insistência em expor o corpo feminino em propagandas
e eventos outros. Devemos lembrar a essas feministas que nenhuma
modelo é obrigada a participar de tais comerciais de divulgação.
Não é um trabalho escravo. Se aceitam, é porque se identificam.
Devem ser atacadas? Se sim, então que sistema de liberdade é esse
que prega o fim do livre-arbítrio? Adianto que é absurdo afirmar
que essas mulheres de pouca roupa são vítimas da “sociedade”.
Ora, se as mulheres nem minoria são, então de que sociedade estamos
falando? Acaso elas não influenciam fortemente essa sociedade? Se
querem fazer realmente alguma mudança, então mudem os indivíduos.
É como um pai que deseja proteger o filho mantendo-o isolado do
mundo. Isso é absurdo. Deve-se muni-lo da capacidade de discernir o
certo e errado e escolher o caminho que lhe agrada. Então, se o
problema são as mulheres que aceitam “mercantilizar seus corpos”,
então tratem de “educá-las”, e não apedrejar o resto do mundo
a fim de destruí-lo. Qual é pior: modelos que recebem por seu
trabalho ou garotas que se exibem em seus saltos altos nas baladas de
sábado e vão dormir na cama fétida de sujeitos que nunca viram na
vida, farão sexo com elas buscando apenas sua satisfação pessoal
e, no outro dia, ainda falarão mal dessas garotas? Essa é a
recompensa que os homens cafajestes recebem? Está mais para
incentivo a continuarem assim. A menos que seja essa a liberdade de
que o movimento esteja falando.2
E mesmo quando essa
“mercantilização” poderia ser vista de outro modo, ela também
é atacada. Houve uma propaganda veiculada certo tempo atrás onde
uma supermodelo brasileira usava seu poder de sedução para
“anestesiar” o marido ao lhe contar péssimas notícias. As
modernistas atacaram o anúncio furiosamente, acusando-o de reduzirem
a mulher a um objeto. Por que não enxergar de outro ângulo? Por que
não ver ali um elogio à magia da beleza e sensualidade femininas?
Por mais que as feministas lutem contra, a natureza sexual de homens
e mulheres nunca será extinta. Talvez fosse mais condizente se essas
feministas (que devem ser assexuadas) perseguissem as mulheres que
usam a beleza para casarem-se com homens ricos e viverem às suas
custas, muitas vezes servindo como passaporte para outros países.
Também seria mais promissor se as mulheres usassem seu encanto para
guiar os homens no modo como gostariam de ser tratadas, em vez de se
contentarem com a situação atual. Mas se há mulheres que não têm
intimidade com suas próprias genitálias por considerarem-nas feias,
comprometendo uma satisfatória vida sexual, o que esperar delas em
outras áreas de suas vidas?
Além do mais, de acordo com as
últimas pesquisas, há várias mulheres chefes de família. Elas são
as responsáveis pela educação dos filhos. Ora, se há tantos
homens que desrespeitam as mulheres e se recusam aos afazeres
domésticos, onde está a falha? Novamente na sociedade? Não seria
um caso de falha na educação doméstica? Ou vão colocar a culpa no
“sistema” que impele as mães a trabalhar o dia inteiro e as
priva da educação dos filhos? Será que é tão difícil assim
assumir alguma culpa? Um pouco que seja? Não faz muito tempo, na
capital paulista e a plena luz do dia, um grupo de moleques agrediu
alguns jovens com lâmpadas fluorescentes por se acharem no direito
de julgar a conduta sexual dos outros e puni-la como lhes conviessem.
Surpreendentemente, na delegacia, uma das mães dos delinquentes
tentava convencer a mãe de uma das vítimas (e a própria vítima) a
retirar a queixa, pois aquilo não passava de uma brincadeira de
adolescentes. Que tipo de monstros essa senhora está criando? Será
que essa mãe, que cria filhos como sociopatas, também é uma
vítima? O que se esperar de homens que são criados como animais sob
a chancela dos pais? A considerar a quantidade de casos absurdos de
violência, acredito que essa “família” não é uma exceção. E
não são poucas as mulheres que insistem em namorar homens violentos
porque acreditam que contra elas eles não agirão violentamente. E,
quando agem, preferem guardar segredo. Quantos não são os casos de
mulheres que, agredidas, chamam a polícia, mas, quando essa chega,
imploram aos prantos que não levem o agressor, porque o amam. Que
tipo de amor destrutivo é esse? É fácil notar o futuro que tais
mulheres estão plantando.
Outro comportamento irritante nesse
novo movimento (e também no eco do antigo) é querer que mulheres e
homens sejam iguais, mesmo desprezando as evidências físicas. Há
alguns anos, Lawrence Summers, à época reitor de Harvard, fez uma
suposição de que o motivo de haver mais homens que mulheres nas
ciências exatas talvez fosse biológico (repare no termo “talvez”).
Foi removido do cargo por isso. Ora, isso é novidade para alguém?
Por acaso é alguma inverdade? Mas não se pode falar apenas porque é
politicamente incorreto? Esse fato mostra até onde a hipocrisia pode
chegar. Querem também culpar a sociedade por menos mulheres
prestarem vestibular para as ciências exatas? Não há ativistas com
cartazes protestando contra mulheres nos cursos de engenharia
(certamente os estudantes homens adorariam ter companhia feminina em
seus cursos). É como querer culpar a sociedade pelo fato de, na
média, os homens dirigirem melhor que as mulheres (será que as
mulheres são tão engajadas ao ponto de fazerem questão de pagar a
franquia gratuita de certos seguros de automóveis que dispensam a
primeira franquia apenas para mulheres?). Se uma mulher tem problemas
mecânicos com o carro, por que pede auxílio ao primeiro homem que
passa por perto? Ela é o componente da “sociedade” que a torna
podre? Mandem-na prender então. É bem sabido de todos que pesquisas
recentes apontam que os hemisférios cerebrais possuem funções
distintas: um cuida do raciocínio lógico-espacial, enquanto o outro
comanda as funções linguísticas e abstratas. Também tem sido
verificado que o primeiro é mais ativo nos homens, ao passo que o
segundo é mais desenvolvido nas mulheres. Coincidência com o fato
de os homens serem predominantes nas engenharias e as mulheres na
linguística? Ou por acaso isso também é artimanha dessa sociedade?
Pesquisas também indicam que as mulheres podem desenvolver as
habilidades matemáticas, mas até que ponto massificar isso não
passa de capricho feminista para provar algo? Será mesmo que as
mulheres querem seguir esse caminho? Por que devem ser majoritárias
em tudo? Isso não seria apenas o inverso da situação atual contra
a qual lutam?
Do mesmo modo, muita coisa fica oculta
sob essas pesquisas que indicam que mulheres ganham menos que homens.
Os resultados dão a entender que, para o mesmo cargo, há diferenças
salariais unicamente motivadas pelo gênero. Embora isso possa ser
verdade em alguns lugares, não é a regra. O fato de as mulheres
ganharem menos que homens diz respeito ao fato de ocuparem cargos
cuja remuneração é menor de acordo com a posição no organograma
da empresa. Em outros casos, como apontam algumas pesquisas, para os
cargos cuja remuneração é negociada, elas simplesmente não tem a
audácia de pedir um salário maior. Também é fato que poucas
mulheres ocupam cargos de chefia. Mas também é engraçado constatar
que muitas mulheres não gostam de ser subordinadas a outras
mulheres. Isso porque é comum que mulheres-em-comando ajam como se
quisessem se vingar ninguém sabe do que ou quem, agravado pela
constante variação de humor – será que foram os homens que
implantaram os hormônios nas mulheres?
Reafirmo que há sim preconceito
contra as mulheres, tanto da parte dos homens quanto da parte delas
mesmas. Mas convém lembrar que também há discriminação contra os
negros, os índios, os pobres (principalmente esses, que nem cor,
raça ou gênero possuem), os deficientes. Também sofrerm agressões
as crianças, os animais, as árvores. Se toda a pressão da
“sociedade” for um “você não pode fazer isso porque é
mulher”, então realmente as que sucumbem a esse argumento não
estão aptas a encarar a vida. Não seria o caso de uma cura única
para todos os males? A Educação é a melhor candidata a ser essa
panaceia. Age tanto do lado vitimador – abrindo suas mentes para
notar que qualquer preconceito é ridículo – quanto do vitimado –
dando-lhes munição irrefutável para garantir reconhecimento. Até
lá, valem políticas atenuadoras, como a Lei Maria da Penha – a
bem da verdade, qualquer violência deveria ser punida por igual. Mas
o fato de uma classe necessitar de assistência especial por parte
dos órgãos governamentais classifica esse grupo como desfavorecido.
Logo, o discurso de que as mulheres não são o sexo frágil cai por
terra (ao menos do ponto de vista mais óbvio). Pesa a favor delas o
fato de nem sequer terem o benefício da dúvida. Se acusam alguém,
estarão certas até que se prove o contrário, como ficou comprovado
no caso Strauss Kahn e a camareira.
Vale notar também que muitos homens
não são “machistas” por que querem, mas unicamente devido ao
modo como as coisas são hoje. Por exemplo, se você algum dia se
depara com um cego trabalhando no caixa de uma loja, você certamente
irá se surpreender pela situação inusitada e fatalmente terá
receio de que ele conseguirá desempenhar aquela função. O mesmo
ocorre em ambientes onde até hoje sempre houve homens. A presença
feminina irá despertar atenção e ressabiamento, mas, uma vez que
demonstre capacidade e torne-se mais comum, será naturalmente
aceita. Um exemplo que ilustra bem o “machismo inercial” é dado
pela Pixar. O gênio da animação digital John Lasseter e sua
equipe, apesar de sempre apresentarem personagens femininos em suas
produções (como Procurando Nemo, Os Incríveis e Toy Story), nunca
haviam criado uma protagonista feminina unicamente pelo fato que a
equipe era formada apenas por homens. Bastou tão somente sua esposa
inquirir-lhe sobre um filme para meninas que nasceu Valente, também
dirigida em grande parte por uma mulher. Existe uma falsa acusação
de machismo cerrado por parte dos homens, mas para muitas mulheres
que experimentam áreas onde só havia homens, elas percebem
gentilezas e cavalheirismo a maior parte do tempo (como declarou a
uma revista de grande circulação nacional uma mulher que dirige
carros de corrida em rallies). Se os homens são mesmo tão
machistas, então qual seria a explicação para haver tantos
cabeleireiros de celebridades homens, numa atividade praticamente
exercida por e direcionada para mulheres? Acaso as mulheres também
são machistas? Há várias esferas que hoje são masculinas, mas a
porta está aberta para que as mulheres entrem. Só não podem
reclamar porque querem que alguém lhes pegue pela mão, se tem
pernas para isso.
Por fim, creio que muitas
participantes desses protestos realmente não estavam ali para apoiar
causa alguma. Estavam apenas entediadas de suas vidas ordinárias e
aproveitaram o calor do momento para fazer algo diferente. Algumas,
quem sabe, sempre quiseram praticar nudismo, e naquele momento
tiveram a oportunidade sob a bênção do movimento. Não seria de se
espantar se muitas despeitadas, findos os protestos, dirigiram-se aos
bares, misturaram-se à multidão e foram oferecer os seios aos
companheiros de copo que ocasionalmente estavam por perto.
Do modo como se comportam e agem, até
parece que feministas em geral detestam os homens, que não amam,
desprezam o sexo. Mas a verdade é que as mulheres, mais do que serem
amadas, tem necessidade de amar. Talvez esse seja o ponto que as
torna mais vulneráveis. Mas essa é outra batalha, sem bandeiras,
sem protestos. E bom seria se todos ganhassem.
1Embora algumas mulheres
afirmem que ser dona-de-casa é tão ou mais complexo que trabalhar
fora, a verdade é que não é. Sim, é importante, principalmente se
se traduz em acompanhamento integral do desenvolvimento dos filhos.
Mas a dificuldade do trabalho externo dá-se pelo estresse de
projetos, prazos, perda financeira para a empresa, lidar com pessoas
difíceis e coisas do gênero. Bem diferente de cuidar de algo que é
seu – sua casa e seus filhos. Maçante, por vezes sim, mas
certamente mais cômodo e confortável.
2Não estou criticando o
sexo casual, apenas colocando na balança qual dos comportamentos o
feminismo que aí está quer para as mulheres.