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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Motes e enumeração

Exercícios de uma época em que estudei poesia.

Exercício de enumeração


Mulher
Olhos
Cabelos
Lábios
Seios
Cintura
Pernas em geral
O olhar
O falar
O ouvir
O recordar
O mover-se
Roupas
Faltou algo?
Sim: as ideias


Exercícios de desenvolvimento a partir de mote


Mote: Esses inquietos ventos andarilhos

Desenvolvimento:
Esses inquietos ventos andarilhos
que vem, vão, vem, vão, num indo-vindo ad aeternum
Bolem num, mexem co'outro
como se disso dependesse sua existência
Onde dormem? E pra onde vão quando vem chuva?
Morrem se amadurecem, refreando as travessuras –
deixam de lado as saias, esquecem os chapéus, abandonam os papéis
Tudo acaba em ar
Ou vento


Mote:  Uma formiguinha atravessa, em diagonal, a página ainda em branco

Desenvolvimento:
Uma formiguinha atravessa, em diagonal, a página ainda em branco
Coitada! Deveria cuidar da geometria, para não perfazer o caminho mais longo
Branco deserto frio, habitado por criaturas velozes e esguias
sedentas de sulcar a superfície plana
Corre, formiguinha!


Mote:  O fim do cigarro tem uma tristeza de fim-de-linha

Desenvolvimento:

O fim do cigarro tem uma tristeza de fim-de-linha
E agora, como fica?
O pensamento suspenso, inacabado
A mão trêmula, a ponta da caneta ofegante
Mas, onde arrumar espaço?
A idéia tem que continuar, a linha idem
Mas para onde?
A folha, esse ente sabotador, limitado, não compreende a grandiosidade
a missão
o prazer de terminar de escrever
um fim-de-linha


Mote:  Uma senhora gorda, com um chapéu de plumas

Desenvolvimento:
Uma senhora gorda, com um chapéu de plumas
Antítese ambulante
Um numerador gracioso encimando um denominador ofegante
E ainda dizem que os opostos se atraem




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