A
data é bem conhecida de todos: gente na rua, viagens, presentes, um
velhinho estrangeiro e a neve que nós não temos. A cidade, armada
de luzes e enfeites, cuida em anunciar a época aos desavisados. É
Natal!
Natal...
O que significa mesmo? Com algum esforço, lembra-se de um menino que
nasceu (faz tempo) bem longe. Difícil lembrar. Bate um sino e nos
vem o nome Belém. Pronto! Obrigação cumprida, vamos às
comemorações. De quê? Quem era o menino? Ora! Isso já não
importa! Comamos e bebamos, companheiros! (lembro que antes dizia-se
irmãos).
Diminuído
o Natal, ficamos com o Ano-novo. Novo tudo. Compra-se novo, fala-se
de novo, pinta-se de novo. E tão pouco dura o novo. Vem a velhice
que tudo acaba e toma o carro, a casa, as roupas e até os hábitos.
Velho tudo outra vez.
É
por esse tempo que descemos aos porões, subimos aos sótãos,
pegamos as caixas, empoeiradas, e tiramos dela a árvore, a estrela,
as guirlandas, anjos e contas de vidro. Espana-se, endireita-se,
põe-se tudo em ordem. Ao final, o que resta é guardar tudo.
Desfaz-se o presépio, desmonta-se a árvore. É também quando
muitos aproveitam o momento para ir a seu depósito, buscam o sorriso
guardado, desembrulham a boa-vontade, espanam a solidariedade, todos
empoeirados. Guardam na caixa o mau-humor, a vingança e a
ranzinzice, para pegá-los dali a alguns dias.
Então
viram as festas de fim-de-ano uma grande deixa: um momento raro onde
as pessoas apresentam o melhor de si e pode-se praticar valores
esquecidos, como o perdão, o dar-se incondicional, o companheirimo.
Se foi esquecido o princípio do Natal, se a passagem de ano virou
sinônimo de enovecer tudo, fiquemos com o que há de bom nessa
época. Praticar a amizade, trocar abraços, olhar o outro e vermos a
nós mesmos. Agradecer (a quem?), ao menos no fim do ano, as coisas
que vivemos. Mesmo aquelas que não vemos de tanto olhar. Lembrar a
religião e praticar a tolerância tão em falta.
Se
isso é Natal, por que esperar todo um ano? Celebremos todos os dias.
Pensemos em prolongar os bons sentimentos e ações por mais tempo,
desvincular boas emoções de objetos empoeirados, tentar mudar o
mundo com a pouca força que cada um tem, mas muita se somada.
Comamos e bebamos, sim, mas não deitemos no fundo da caixa o amor, a
fé e a esperança. Vamos deixá-los para sempre pendurados na árvore
da vida.
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