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domingo, 2 de dezembro de 2012

Nomes

Nossos nomes são nossa marca registrada. No entanto, parece injusto que o recebamos de outras pessoas, por motivos alheios aos nossos.



– Pois não, senhor Carlos, em que posso ajudá-lo?
– Tenha uma boa tarde, senhora Marisa, volte sempre!

Dizem as boas regras de convivência que a maior gentileza que se pode fazer com outra pessoa é chamá-la por seu nome – por isso os operadores de telemarketing e atendentes de loja são orientados a perguntar nossos nomes ao iniciar o atendimento. A pessoa sente-se especial, individualizada, única. Mas, a julgar pela extensa quantidade de nomes pouco convencionais – e pouco queridos – que por aí estão, essa regra é rebaixada de axioma (algo que não necessita de comprovação) para teorema (algo que deve ser provado como verdade).

Nossos nomes constituem um dos fardos mais injustos da atualidade. Eles nos são dados à nossa total revelia. Não opinamos, não tomamos parte, apenas o recebemos e não há nada a fazer que não aceitá-lo – há aqueles que o mudam, mas não sem complicações e dores de cabeça. Embora alguns argumentem que queriam ter pais diferentes, esse é um desejo impossível, uma vez que, com pelo menos um dos pais sendo diferente, a pessoa já não seria a mesma. No entanto, ter um nome diferente é um desejo totalmente plausível. A questão é que os pais não têm como saber se os filhos aprovarão o nome que eles escolheram.

Esse é um problema de muitos aspectos. Há diversas maneiras pelas quais os pais escolhem nomes para seus filhos. Alguns usam os nomes que estão na moda – por exemplo, o nome da protagonista da novela do momento –, outros, igualmente pouco criativos, reutilizam os nomes de parentes, como pais e avós. Há também os que, nesse caso, para que ambos os pais fiquem satisfeitos, dão ao rebento um nome que é a fusão de seus próprios nomes, gerando nomes estranhíssimos (imagine a fusão de Astrogenildo com Adamastora).

Mas há dois casos que, por sua excentricidade, constituem-se os piores. Um deles é quando os pais decidem fazer uma homenagem à custa dos filhos. Tudo bem os pais terem um time do coração, um ídolo dos esportes, um cantor preferido, um ator que admiram ou um escritor de quem gostam muito – às vezes, até um amigo se presta a esse fim. A pergunta é: o que seus filhos têm a ver com isso? Mas os pais, no calor do momento, não consideram que aquela criança, tão pequena e inerte, um dia terá seus próprios gostos e poderá discordar radicalmente da opinião de seus progenitores. Pior ainda se forem nomes ligados à religião. O rebento poderá tornar-se um descrente, um apóstata e, além de lamentar o nome que lhe perseguirá pelo resto da vida, ao mesmo tempo maculará a crença de seus pais com suas atitudes.

O segundo pior caso é quando os pais enfadam-se de procurar bons nomes e consideram que seria melhor criar nomes novos – um arroubo de autoconfiança e originalidade. Daí surgem nomes tão estranhos quanto divertidos – ao menos para os espectadores. São nomes de objetos, plantas, animais; termos os mais diversos. Há inclusive os que são formados por outros nomes ou mesmo frases escritos de trás pra frente. Não há limites quando se trata de pais empenhados em dar nomes únicos aos filhos.

Claro que sempre há a possibilidade de os pais terem escolhido um nome apropriado para o filho, mas esse nome pode assumir um significado depreciativo com o tempo. Qualquer nome está sujeito a isso. Sempre pode surgir um personagem na TV ou em livros – coisa rara, já que poucas pessoas leem hoje – e condicionar um nome a ele, afetando todos os portadores daquele nome. Não há muito o que fazer quanto a isso...

Talvez uma possibilidade de libertação para os filhos fosse receber nomes temporários dos pais, os quais poderiam alterar, caso desejassem, ao atingir uma determinada idade. Só teriam que lidar por um bom tempo com os apelidos baseados no nome antigo, além de ser inevitável os chamamentos do tipo “ex-fulano”. “– Ah, você que se chamava sicrano? Pode me chamar de João, mas todos me chamam de ex-beltrano”.

A escolha do nome para o filho é um desafio e uma responsabilidade. Por mais tempo que se gaste escolhendo, por mais considerações que tenham sido feitas, nada garantirá a simpatia da criança por seu nome. Ela poderá preferir outro qualquer, ainda que seja um tecnicamente pior. Se gostar, então todos viverão felizes para sempre, mas caso contrário, resta conviver com um apelido para substituir o nome, com o bullying, com o uso de apenas um nome (para os que têm nomes compostos), inventar um pseudônimo, esperar um redentor homônimo ou simplesmente afeiçoar-se a ele.

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