Pesquisar este blog

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Sugestão de leitura



Título: O Imperador de Todos os Males – Uma Biografia do Câncer
Autor: Siddhartha Mukherjee
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 978-85-3592-006-2








O ser humano teme muitas coisas. Particularmente, ele teme o desconhecido. Teme o que não compreende e, consequentemente, não pode controlar. Muitas doenças estão nesse patamar, lembrando ao homem sua finitude e fraqueza biológica, a despeito dos grandes progressos da raça humana. Dentre todas as doenças, existe uma em especial cujo nome, em alguns lugares, hesita-se até ser pronunciado. “Uma doença que na verdade não é uma, mas várias”. É essa enfermidade que conhecemos por câncer.

A natureza do câncer, para o público leigo, é envolta em mistério. Conhece-se apenas as poucas informações que nos chegam através dos meios jornalísticos, como substâncias que podem causar câncer ou formas de preveni-lo. Felizmente, esse público pode contar agora com uma importante fonte de informações quanto a esse assunto. O Imperador de Todos os Males, de Siddhartha Mukherjee, cumpre bem o papel a que se propõe (exposto no subtítulo): ser uma biografia do câncer. O autor, com formação em biologia, imunologia e oncologia, descreve desde os possíveis primeiros relatos conhecidos da doença (há milênios atrás), até o estado da arte do tratamento do câncer. Nomes, datas, lugares, procedimentos, descobertas, pesquisas, estudos. Toda a miríade de elementos que fazem parte da história desse mal que ainda assola livremente é contada e entrelaçada em detalhes.

No entanto, engana-se quem pensa encontrar um relato técnico, frio, impessoal. Não à toa a obra ganhou o prêmio Pulitzer de 2011. Os personagens não são uma relação entre um nome e uma pesquisa que contribuiu para o conhecimento ou tratamento do câncer, mas pessoas reais, com sentimentos reais, frustrações, esperanças, angústia, decepção, receios. O autor apresenta-os com descrições físicas e emocionais, ajudando-nos a construir a imagem de um ser humano que faz pesquisa, e não de um pesquisador que por acaso é também humano.

Mukherjee não poupou esforços nem tinta para redigir sua obra. Ela é fruto de extensa pesquisa e não são poucas as referências presentes no livro – acadêmicas ou não. Prova disso são suas pouco mais de seis centenas de páginas ricas em detalhes. Tão elaborada que em dados momentos leva-nos a crer que se trata de obra de ficção, com autor onisciente e que conhece o desenrolar dos fatos vindouros, e não um relato de uma guerra contra a mais terrível das doenças. O realismo da leitura, construída fato sobre fato, em sua maior parte linearmente, faz-nos crer que a história terá um final feliz. Um fio de esperança se aloja em nosso íntimo à medida que avançamos na leitura, embora, sabendo que há tratamento para apenas alguns tipos de câncer, isso infelizmente não é possível.

Duas observações saltam aos olhos do leitor atento. A primeira é que a frase de Newton adequa-se perfeitamente à história do câncer: “se consegui ver mais longe, foi porque estive apoiado sobre ombros de gigantes”. O câncer é uma doença bastante complexa, e seria impossível a uma única pessoa – ou mesmo a um pequeno grupo – descobrir seus engendramentos. O conhecimento atual que temos foi construído ao longo de décadas, por médicos, biólogos e cientistas de diferentes países, dedicados ou não ao câncer, através de descobertas intencionais ou acidentais, algumas aparentemente sem conexão com a doença (ou com qualquer outra coisa), mas que, de alguma maneira, convergiram de modo feliz para que avançássemos no conhecimento clínico a seu respeito. Um trabalho obscuro, realizado por um desconhecido, publicado em um jornal médico pouco conceituado por vezes tornou-se base para que outros ultrapassassem os limites da fisiologia do câncer de sua época.

A segunda observação é que a história dessa doença muito pouco tem a ver com o governo ou com a indústria farmacêutica. O desbravamento do câncer partiu e foi constituído em grande parte por idealistas, apaixonados, persistentes, reticentes, impulsivos, metódicos, alguns fanáticos e um punhado de loucos. Foi a iniciativa, a dedicação e o trabalho duro de cada um que alavancou e direcionou a luta contra o câncer. O mérito das pequenas vitórias está distribuído ao longo de centenas de nomes em variadas épocas e muitos lugares. São muitos os louros a serem dados, e ainda há muitos aguardando seus merecedores, pois a batalha contra essa temível enfermidade ainda está em curso e sem data para terminar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário