Pesquisar este blog

domingo, 14 de outubro de 2012

Educação X instrução

O aumento do número de estudantes no Brasil não tem mudado radicalmente o panorama da fraca educação brasileira. Basicamente porque os alunos desprezam o conteúdo visto em sala de aula.


Quando estava estudando para o vestibular, o professor de história (e filosofia e sociologia) nos disse que, na universidade, nossas mentes iriam se abrir de um modo que não podíamos imaginar. Comentei isso com meu irmão que também iria prestar vestibular aquele ano. Ele desacreditou, eu fiquei ansioso por aquilo.

De fato, os quatro anos na universidade me abriram o entendimento, principalmente para o ambiente científico e a matemática que está por detrás de tudo quanto existe no mundo, assim como para a importância da interdisciplinaridade – que já sabia necessária. Hoje me é impossível enxergar o mundo de maneira dissociada do background que adquiri durante meu primeiro curso superior. No entanto – e infelizmente –, isso não parece ser uma regra para todos os que passam por nossas universidades. Conheço várias pessoas que concluíram seus cursos tão ignorantes como quando iniciaram, insistindo em deixar na universidade o conhecimento a que tiveram acesso, como se fosse carga indesejada.

Todo mundo já ouviu falar que a Educação é a arma que pode mudar o mundo (mais especificamente, nosso país), que ela transforma vidas e etc. No entanto, o número de crianças matriculadas em nossas escolas nunca foi tão alto e ainda assim ocupamos as últimas posições do IDEB. Do mesmo modo, a quantidade de universitários é infinitamente maior que há poucos anos atrás, mas o país continua andando a passos de tartaruga. Afinal, a Educação possui ou não esse poder?

Para respondermos a essa pergunta é melhor observarmos a história recente de alguns países asiáticos, a exemplo de Cingapura, Taiwan e China. Não faz muito tempo, eram países atrasados economicamente, com perfil agrário. Mas o governo planejou e implantou um plano ambicioso de Educação que, sem dúvida alguma, vingou. Hoje esses países são pólos tecnológicos e exportam produtos com alto valor agregado. Alguns pontos importantes desse projeto de educação foram: alto investimento na educação básica, objetividade e visão de longo prazo. Isso é exatamente o inverso do que ocorre em nossa educação. A educação de base lembra a invasão da Normandia, cujos sobreviventes ingressam nas universidades, onde recebem uma instrução melhor. Cada governo planeja um plano para que se lembrem de algo que fizeram. As crianças avançam nas séries aos trancos e barrancos, aprendendo pouco ou nada, sem entender ao certo o porquê da escola e aonde vão chegar.

Tampouco o aumento na oferta de cursos universitários tem diminuído o precário quadro geral de nossa educação. O diploma universitário não passa de um bem de consumo, motivado apenas pela possibilidade de preencher uma vaga no mercado de trabalho, desprovido que é de significar aquisição de conhecimento acadêmico. Há até os que acreditam que em dois anos pode-se aprender tanto quanto em um bacharelado de quatro anos. Acredito que o problema é apenas um: nossos estudantes veem o conhecimento apresentado nas salas de aula apenas como mero entrave para a conquista do título, e não como ferramenta para uso constante em suas vidas.

Isso é o que diferencia instrução de Educação. Instrução consiste apenas em fazer contas, conhecer as regras da gramática, reconhecer a tabela periódica se a vir, calcular o século a partir do ano. Educação é o que faz o indivíduo ir além. O indivíduo verdadeiramente educado não apenas faz contas, mas entende a matemática como uma linguagem e a percebe nas mais diversas situações; ele não apenas conhece as regras gramaticais, mas entende a gramática como uma normatização temporária do idioma; ele não apenas reconhece a tabela periódica, mas entende a importância dos elementos químicos no dia a dia; ele não se limita a calcular datas, mas tem a visão da história como um todo. O indivíduo que aceitou a educação em sua vida não assiste a um filme dublado passivamente, mas pensa no trabalho de tradução ao se deparar com um trocadilho. Ele não lê um livro sem buscar informações do autor e suas motivações para escrever. Ele não se contenta em ouvir uma música sem obter informações do artista. O instruído conhece os fatos. O educado os compreende. A instrução melhora o nível da população, mas só a Educação pode libertá-la da ignorância.

Enquanto não utilizarmos o conhecimento para desenvolver produtos ou serviços, não sairemos do lugar. Enquanto a ideologia retrógrada de nossas universidades mantiver boas ideias empoeirando nas bibliotecas, nunca seremos uma nação respeitada. Não basta aumentar o número de matriculados. É necessário saber aonde queremos chegar com eles. Enquanto os alunos fizerem questão de apagar de suas memórias o conteúdo curricular ao final do ano por achá-lo inútil, nunca alcançaremos os países desenvolvidos. Obviamente, muito do que estudamos não é utilizado de forma prática em nossas vidas, mas é impossível realizar qualquer inovação (principalmente no ramo de tecnologia) sem ser através desse conhecimento. Enquanto nossos formandos saírem do ensino superior com o mesmo nível crítico de um aluno do ensino médio, estaremos fadados ao desprezo mundial e ao atraso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário