O aumento do número de estudantes no Brasil não tem mudado radicalmente o panorama da fraca educação brasileira. Basicamente porque os alunos desprezam o conteúdo visto em sala de aula.
Quando estava estudando para o
vestibular, o professor de história (e filosofia e sociologia) nos
disse que, na universidade, nossas mentes iriam se abrir de um modo
que não podíamos imaginar. Comentei isso com meu irmão que também
iria prestar vestibular aquele ano. Ele desacreditou, eu fiquei
ansioso por aquilo.
De fato, os quatro anos na
universidade me abriram o entendimento, principalmente para o
ambiente científico e a matemática que está por detrás de tudo
quanto existe no mundo, assim como para a importância da
interdisciplinaridade – que já sabia necessária. Hoje me é
impossível enxergar o mundo de maneira dissociada do background
que adquiri durante meu primeiro curso superior. No entanto – e
infelizmente –, isso não parece ser uma regra para todos os que
passam por nossas universidades. Conheço
várias pessoas que concluíram seus cursos tão ignorantes como
quando iniciaram, insistindo em deixar na universidade o conhecimento
a que tiveram acesso,
como se fosse carga indesejada.
Todo mundo já ouviu falar que a
Educação é a arma que pode mudar o mundo (mais especificamente,
nosso país), que ela transforma vidas e etc. No entanto, o número
de crianças matriculadas em nossas escolas nunca foi tão alto e
ainda assim ocupamos as últimas posições do IDEB. Do mesmo modo, a
quantidade de universitários é infinitamente maior que há poucos
anos atrás, mas o país continua andando a passos de tartaruga.
Afinal, a Educação possui ou não esse poder?
Para respondermos a essa pergunta é
melhor observarmos a história recente de alguns países asiáticos,
a exemplo de Cingapura, Taiwan e China. Não faz muito tempo, eram
países atrasados economicamente, com perfil agrário. Mas o governo
planejou e implantou um plano ambicioso de Educação que, sem dúvida
alguma, vingou. Hoje esses países são pólos tecnológicos e
exportam produtos com alto valor agregado. Alguns pontos importantes
desse projeto de educação foram: alto investimento na educação
básica, objetividade e visão de longo prazo. Isso é exatamente o
inverso do que ocorre em nossa educação. A educação de base
lembra a invasão da Normandia, cujos sobreviventes ingressam nas
universidades, onde recebem uma instrução melhor. Cada governo
planeja um plano para que se lembrem de algo que fizeram. As crianças
avançam nas séries aos trancos e barrancos, aprendendo pouco ou
nada, sem entender ao certo o porquê da escola e aonde vão chegar.
Tampouco o aumento na oferta de cursos
universitários tem diminuído o precário quadro geral de nossa
educação. O diploma universitário não passa de um bem de consumo,
motivado apenas pela possibilidade de preencher uma vaga no mercado
de trabalho, desprovido que é de significar aquisição de
conhecimento acadêmico. Há até os que acreditam que em dois anos
pode-se aprender tanto quanto em um bacharelado de quatro anos.
Acredito que o problema é apenas um: nossos estudantes veem o
conhecimento apresentado nas salas de aula apenas como mero entrave
para a conquista do título, e não como ferramenta para uso
constante em suas vidas.
Isso é o que diferencia instrução
de Educação. Instrução consiste apenas em fazer contas, conhecer
as regras da gramática, reconhecer a tabela periódica se a vir,
calcular o século a partir do ano. Educação é o que faz o
indivíduo ir além. O indivíduo verdadeiramente educado não apenas
faz contas, mas entende a matemática como uma linguagem e a percebe
nas mais diversas situações; ele não apenas conhece as regras
gramaticais, mas entende a gramática como uma normatização
temporária do idioma; ele não apenas reconhece a tabela periódica,
mas entende a importância dos elementos químicos no dia a dia; ele
não se limita a calcular datas, mas tem a visão da história como
um todo. O indivíduo que aceitou a educação em sua vida não
assiste a um filme dublado passivamente, mas pensa no trabalho de
tradução ao se deparar com um trocadilho. Ele não lê um livro sem
buscar informações do autor e suas motivações para escrever. Ele
não se contenta em ouvir uma música sem obter informações do
artista. O instruído conhece os fatos. O educado os compreende. A
instrução melhora o nível da população, mas só a Educação
pode libertá-la da ignorância.
Enquanto não utilizarmos o
conhecimento para desenvolver produtos ou serviços, não sairemos do
lugar. Enquanto a ideologia retrógrada de nossas universidades
mantiver boas ideias empoeirando nas bibliotecas, nunca seremos uma
nação respeitada. Não basta aumentar o número de matriculados. É
necessário saber aonde queremos chegar com eles. Enquanto os alunos
fizerem questão de apagar de suas memórias o conteúdo curricular
ao final do ano por achá-lo inútil, nunca alcançaremos os países
desenvolvidos. Obviamente, muito do que estudamos não é utilizado
de forma prática em nossas vidas, mas é impossível realizar
qualquer inovação (principalmente no ramo de tecnologia) sem ser
através desse conhecimento. Enquanto nossos formandos saírem do
ensino superior com o mesmo nível crítico de um aluno do ensino
médio, estaremos fadados ao desprezo mundial e ao atraso.
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