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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Homem-bicho


Sou homem
mas ocupo o lugar de um bicho
Na verdade
já nem sei se ainda sou homem
ou tornei-me bicho
Cato imundície na rua
puxando uma carroça
que deveria ser levada por um bicho
Meus músculos se rasgam
Meus nervos se afrouxam
Homem-bicho que sou
Sei de bichos
que vivem melhor que eu
Comem todos os dias
Não usam as pernas para correr
Nem têm mais unhas para se defender
E ainda vão a médicos
São gente, não bichos
Eu preciso das pernas
dos pés gretados
Careço das mãos feridas e calejadas
Ásperas
Porque sou bicho
e não há ninguém por mim
Ninguém me vê
Sou homem invisível
Mas bicho que, se visto, ignorado
Como não ataco, me evitam
Se atacassse, me matariam
Como fizeram com outros bichos iguais a mim
Tenho cheiro de bicho
Bicho já morto
Tenho instinto de bicho
Jeito de bicho
Bicho que sou
Agora já nem sei
se um dia fui homem
ou se nasci bicho

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