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sexta-feira, 3 de maio de 2013

Não me representa?


Será que realmente os políticos brasileiros não representam nosso povo?


Estava lendo recentemente uma coluna gastronômica de um jornal quando, entre as tergiversações do colunista, ele falava das últimas ondas de protestos contra o atual líder da Comissão de Direitos Humanos da Câmara*. Esse colunista dizia que o slogan do protesto ("não me representa"), era desnecessário, uma vez que, dizia, "ninguém ali [no Congresso] nos representa".

Creio que o colunista cometeu um equívoco. Aliás, se desapercebeu de um fato: o Brasil é, desde há muito, um Estado democrático de direito. Desde o final da década de oitenta, a escolha de nossos representantes (sim, "representantes") se dá através do voto direto. Isso tem um significado muito simples: os políticos que estão no poder foram escolhidos por nós. Eu não votei em todos os que estão lá,  ninguém votou. Há mesmo os que julgo não deverem estar lá, mas estão. Eu sequer pude votar contra eles (não há essa opção em nosso sistema eleitoral – desconheço que algum país o tenha), mas certamente outras pessoas votaram a seu favor. Número suficiente para elegê-lo1. Ora, como pode tal político não representar ninguém?

Bem sei que há aqueles que estão no poder representando apenas uma pequena minoria – industriais, empreendedores do ramo agropecuário, etc. – mas isso não significa que não representam ninguém. E nesse quesito há tanto os que representam poderosos como os que defendem os desvalidos, como portadores de necessidades especiais, homossexuais, meio-ambiente, etc. Cada grupo tem direito a ser representado no Congresso, seja lá qual for sua causa. O ideal seria que todos os que estão no poder se voltassem para os problemas da sociedade, sejam eles compartilhados por muitos ou sofrido por poucos. Mas sabemos que isso é irreal.

No fundo, sabemos que o colunista, ao falar que não havia representantes do povo no Congresso (e nas demais casas públicas que abrigam os homens do poder), está se referindo à (aparente) discrepância entre os atos destes e os atos do povo. Epa! Mas a que povo ele se referiu? Talvez ele estivesse mesmo desconectado da realidade quando escreveu seu artigo e não tenha percebido que esse povo, ele incluso, é o brasileiro. Em sua visão pueril, nosso povo é honesto, lutador, puro, respeitador, promovedor do bem e da ordem. É bem fácil percebermos que esse definitivamente não é o retrato mais bem pintado de nossa gente.

Sim, há pessoas honestas, humildes e esforçadas por aqui, mas estão longe de ser o padrão. O padrão mesmo é o brasileiro espertinho, que sempre quer ter vantagem, que tem preguiça, que tem aversão ao esforço, que surrupia quando pode e disfarça sempre que possível. Essa é a visão em pequena escala. Quanto mais poder e meios eles dispõem, maior o efeito de seus atos. Gente simples faz mal aos vizinhos, mas grandes empresários conseguem demolir centenas de casebres, donos de vastas terras destroem a natureza intocada e industriais poluem e rios e envenenam os ares. E que dizer dos que detêm o poder das leis? Suas vontades serão imbatíveis. Mas – surpresa! – eles não passam do povo aumentado, ampliado através da investidura do cargo. Caso estivessem na massa, praticariam os pequenos delitos, assim como qualquer popular, alçado à condição de político, cuidaria em desfrutar impudicamente de todos os privilégios escusos e inerentes à sua posição.

Portanto, nobre colunista, sim, aqueles que estão ali nos representam, inequivocadamente.


* Deputado Marco Feliciano
1Com o atual sistema de voto por legenda, essa realidade deixa um pouco de ser verdade.

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