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domingo, 4 de agosto de 2013

Sugestão de audição





Artista: Raiz Coral
Estilo: black music (soul, R&B)
Origem: Capão Redondo (SP)
Líder: Sérgio Saas
Desde: 2000






Os Estados Unidos têm lugar de destaque em diversas áreas: política, ciência, tecnologia, esportes. No entanto, o mesmo não se pode dizer das artes, no sentido clássico. Colonizada após meados do segundo milênio, é uma nação jovem que chegou tardiamente no meio artístico, quando as nações centenárias europeias já se esvaziavam de formas rígidas e acenavam com estéticas mais livres. Sem tradição clássica, não conseguiu escalar grandes vultos na música ou na pintura (o surgimento de Andy Warhol foi de grande alívio para os que se ressentiam disso). Mas houve uma área em que ela se desenvolveu (e criou muito do que de fato existe): a música popular. De fato, ela a levou às últimas consequências ao monopolizar a música pop, sendo Michael Jackson e Madonna seus incontestáveis representantes.

Apesar disso, muitas pessoas lembram dos Estados Unidos como um lugar onde se ouve bastante rock, uma vez que ali é seu berço – o que é um pouco irônico pelo fato de as primeiras grandes bandas de rock (e muitas da atualidade) serem britânicas. Porém, antes do rock e antes do pop, surgiu nos EUA toda uma família de ritmos que se agrupam sob um único nome: black music. Sem dúvida essa é a maior contribuição dos americanos para a arte mundial. A black music consiste no desenvolvimento do germe musical africano em solo ianque, impossível de ser analisado sob apenas uma óptica. Seu nascimento está envolto em história, antropologia, política, economia, direitos humanos e música. Sua influência estende-se a vários países e diversos ritmos, com os quais se agrupou, originando novos gêneros. Blues, jazz, disco, funk, rhythm'n'blues, soul. Esses são apenas alguns de seus representantes diretos. E o soul, em seu movimento ao redor do mundo, desceu rumo ao sul e chegou ao Brasil.

Aqui, há alguns nomes que comumente são associados ao soul, embora sua musicalidade esteja bastante distante desse ritmo (por exemplo, Cassiano e Tim Maia). Porém, longe dos holofotes, há alguns grupos e solistas de soul que fazem jus ao nome. Entre eles, destaca-se indubitavelmente o Raiz Coral, grupo paulista da região do Capão Redondo, zona sul da cidade. Formado por evangélicos de diversas denominações, o Raiz Coral segue o estilo tradicional do soul, com vocalização a três vozes (sopranos, contraltos e tenores), execução estilo pergunta-resposta, uso de vibratos e abundância de improvisos e melismas. O fato de ser um coral evangélico, enquanto contribui para que não seja de grande popularidade, provavelmente é a causa de sua excelência musical, pois há no Brasil uma clara dicotomia entre forma e conteúdo, os seculares preferindo esta, e os cristãos, a primeira.

O Raiz Coral foi fundado por Sérgio Saas e Scooby (Daniel Carvalho) em 2000, e o primeiro álbum foi lançado em 2004. Pra Louvar é um álbum antológico, baseado fortemente na tradição black, com excelente base instrumental e algumas participações especiais. O grupo tem três álbuns lançados, mas sem dúvida o primeiro é o melhor deles – o que não desmerece os demais, que são ótimos. Nesse trabalho não há um solista em destaque, pois os componentes e os convidados alternam-se das mais variadas maneiras (há músicas com até cinco solistas), demonstrando a profusão de talentos do grupo. No entanto, cumpre citar alguns nomes que enriqueceram o álbum: Saas, Ton Carfi, Izabeh (convidado) e Leonardo Gonçalves (convidado com destaque à parte, cujo talento musical foi reconhecido até mesmo por Ed Mota).

Além do Raiz Coral, Saas possui outros projetos paralelos. Um deles é sua carreira solo (com dois CD's gravados) e outro são álbuns de parcerias para divulgação de artistas de estilo semelhante, além de participações em trabalhos de estreantes. Também faz parte de um quarteto vocal que é um subconunto do Raiz Coral. Mas seu talento vai além da interpretação. É professor de canto, compositor da maioria das músicas do Raiz, além de produtor e, por vezes, arranjador. Atualmente é o principal solista do grupo, pois diversos componentes saíram para seguir carreira-solo, alterando bastante a formação original.

O grupo, apesar de recente, já teve alguns momentos marcantes. Um dos principais foi acompanhar Kirk Franklin (músico gospel americano conhecido mundialmente) em seu show no Credicard Hall em São Paulo. Também dividiu o prêmio do programa Qual é o Seu Talento? (do SBT) em 2010, e se apresentou na cerimônica de casamento da artista Wanessa (Camargo), quando encantou os presentes, tirando elogios até mesmo de grandes nomes da música brasileira, como Erasmo Carlos.

O Raiz Coral é uma prova de que talento e seriedade, quando aliados, podem gerar resultados fabulosos. São também prova de que boa qualidade independe de lugar. Infelizmente, o estilo musical que adotaram possui poucos adeptos no Brasil, o que contribui para que permaneçam num certo ostracismo. Isso, aliado ao fato de serem evangélicos, torna ainda mais difícil que tenham seu talento reconhecido, uma vez que nossos ouvintes não sabem ouvir de maneira livre de juízo de valor e carecem de aprovação da crítica ou da mídia para escutar um determinado artista. Mas para os que conseguirem se libertar dessa deficiência, com certeza apreciarão esse autêntico coral black brasileiro.


Principais músicas do primeiro álbum: Dê o seu melhor, A coroa, Jesus meu guia é, Minha pequena luz, Vem louvar, CaridadeTocou-me, Bendito, Te louvo, Pra louvar

Apresentações no Qual é o Seu Talento: classificatória, semifinal, final





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