Pesquisar este blog

domingo, 13 de outubro de 2013

Humor medíocre

Humoristas conhecidos apenas por suas tiradas baseadas em sexo são a representação da mediocridade, sendo seguidos de perto por um público tão medíocre quanto eles


Embora seja discutível se o homem é ou não um animal – em uma acepção filosófica –, certamente ele possui uma parte animal, caracterizada por sua biologia. No entanto, a consciência e a engenhosidade de que dispõe o homem permitem-lhe utilizar sua fisiologia de modo mais apurado ou mesmo subvertê-la. É o caso da culinária, que vai muito além da atividade primitiva de se alimentar, sendo provavelmente a ciência dos vinhos a cereja do bolo. O erotismo – e todo o universo criado em torno desse tema – é o produto da evolução do ato sexual muito além da pura e simples reprodução.
 
E é essa mesma capacidade de ir muito além das sensações básicas que capacita o homem a encontrar satisfação em atividades que estão em um nível superior em relação a suas necessidades primitivas. Por exemplo, o pensamento crítico ou filosófico está muito distante da necessidade de comer, respirar ou dormir. Ele é abstrato e rico em referencialidades. Da mesma forma o humor fino. Ele lança mão da referenciação, da paródia e da ironia, algo que só os humanos possuem e é, segundo alguns, um traço evolutivo intrigante. E é justamente o fator humor que irá me conduzir nessa exposição.

A questão do humor está em evidência devido às facilidades de divulgação trazidas pela Internet e ao sucesso do formato stand-up aqui no Brasil. Até pouco tempo, o quadro cômico nacional era dominado por migrantes nordestinos que possuíam quadros nas emissoras de televisão do sudeste – no nordeste o humor é endêmico e necessário. Hoje, há uma predominância dos artistas do sul no cenário, que coincide com a ausência de limites da Internet e um enfraquecimento da censura dos canais abertos. Isso deixou aberto o caminho para que muitos profissionais do ramo passassem a explorar largamente o tema sexualidade – esse tema sempre foi recorrente, mas antes era mais restrito a insinuações e malícia, nem sempre percebida pela totalidade do público. Até certo ponto, é um tema como outro qualquer, mas não deixa de ser irritante quando um comediante o toma por núcleo de suas apresentações, demonstrando total falta de criatividade e inteligência para explorar outros temas.

Há um nome para isso: mediocridade. Ela é definida como “ausência de talento ou mérito; insignificância; pequenez”. Talento é algo que definitivamente falta a esses artistas, enquanto pequenez sobra-lhes em abundância. Eles se valem do tema fácil e óbvio por um motivo simples: a certeza de que surtirá efeito, pois trata-se de apelação para uma característica básica do lado animal do homem e, portanto, comum a todos. O humor inteligente é falho porque nem todos conseguem entender suas sutilezas, enquanto o humor caricato deixar escapar aqueles que não conhecem o tema atacado. Mas o humor desenvolvido sobre o tema sexo prescinde de pré-requisitos. Ele se vale da preferência do homem pelos sentidos, pela reação sensorial de seu corpo, pelos instintos animais. E encontra terreno fértil porque a plateia acompanha o comediante no quesito mediocridade.

Muitos filmes brasileiros, peças de teatro e séries de televisão compartilham desse mau gosto. E repercutem positivamente, o que é pior. Muitas músicas vão pelo mesmo caminho. Isso viceja por aqui pelo fato de nosso povo ser inculto e estar feliz com isso. Não conseguem se desvencilhar da dominação dos instintos mais baixos e apenas conseguem achar graça nas coisas desavergonhadas, impudicas, sem-vergonhas. Nas situações mais prosaicas, como uma conversa entre amigos, sempre sai uma referência a órgãos sexuais. Comparações, apenas referentes a sexo. Da mesma forma elogios e achincalhamentos. A salvação vem pela cultura, pelo conhecimento de elite produzido pela raça humana, pelas artes clássicas e pensamentos de grandes mentes. Enquanto isso não vem, não nos veremos livres da mediocridade crescente que se espalha como fogo em palha seca. Que Deus tenha piedade de nós!

Nenhum comentário:

Postar um comentário