Humoristas conhecidos apenas por suas tiradas baseadas em sexo são a representação da mediocridade, sendo seguidos de perto por um público tão medíocre quanto eles
Embora seja discutível se o homem é
ou não um animal – em uma acepção filosófica
–, certamente ele possui uma parte animal, caracterizada por sua
biologia. No entanto, a consciência e a engenhosidade de que dispõe
o homem permitem-lhe utilizar sua fisiologia de modo mais apurado ou
mesmo subvertê-la. É o caso da culinária, que vai muito além da
atividade primitiva de se alimentar, sendo provavelmente a ciência
dos vinhos a cereja do bolo. O erotismo – e todo o universo criado
em torno desse tema – é o produto da evolução do ato sexual
muito além da pura e simples reprodução.
E é essa mesma capacidade de ir muito
além das sensações básicas que capacita o homem a encontrar
satisfação em atividades que estão em um nível superior em
relação a suas necessidades primitivas. Por exemplo, o pensamento
crítico ou filosófico está muito distante da necessidade de comer,
respirar ou dormir. Ele é abstrato e rico em referencialidades. Da
mesma forma o humor fino. Ele lança mão da referenciação, da
paródia e da ironia, algo que só os humanos possuem e é, segundo
alguns, um traço evolutivo intrigante. E é justamente o fator humor
que irá me conduzir nessa exposição.
A questão do humor está em evidência
devido às facilidades de divulgação trazidas pela Internet e ao
sucesso do formato stand-up aqui no Brasil. Até pouco tempo,
o quadro cômico nacional era dominado por migrantes nordestinos que
possuíam quadros nas emissoras de televisão do sudeste – no
nordeste o humor é endêmico e necessário. Hoje, há uma
predominância dos artistas do sul no cenário, que coincide com a
ausência de limites da Internet e um enfraquecimento da censura dos
canais abertos. Isso deixou aberto o caminho para que muitos
profissionais do ramo passassem a explorar largamente o tema
sexualidade – esse tema sempre foi recorrente, mas antes era mais
restrito a insinuações e malícia, nem sempre percebida pela
totalidade do público. Até certo ponto, é um tema como outro
qualquer, mas não deixa de ser irritante quando um comediante o toma
por núcleo de suas apresentações, demonstrando total falta de
criatividade e inteligência para explorar outros temas.
Há um nome para isso: mediocridade.
Ela é definida como “ausência de talento ou mérito;
insignificância; pequenez”. Talento é algo que definitivamente
falta a esses artistas, enquanto pequenez sobra-lhes em abundância.
Eles se valem do tema fácil e óbvio por um motivo simples: a
certeza de que surtirá efeito, pois trata-se de apelação para uma
característica básica do lado animal do homem e, portanto, comum a
todos. O humor inteligente é falho porque nem todos conseguem
entender suas sutilezas, enquanto o humor caricato deixar escapar
aqueles que não conhecem o tema atacado. Mas o humor desenvolvido
sobre o tema sexo prescinde de pré-requisitos. Ele se vale da
preferência do homem pelos sentidos, pela reação sensorial de seu
corpo, pelos instintos animais. E encontra terreno fértil porque a
plateia acompanha o comediante no quesito mediocridade.
Muitos filmes brasileiros, peças de
teatro e séries de televisão compartilham desse mau gosto. E
repercutem positivamente, o que é pior. Muitas músicas vão pelo
mesmo caminho. Isso viceja por aqui pelo fato de nosso povo ser
inculto e estar feliz com isso. Não conseguem se desvencilhar da
dominação dos instintos mais baixos e apenas conseguem achar graça
nas coisas desavergonhadas, impudicas, sem-vergonhas. Nas situações
mais prosaicas, como uma conversa entre amigos, sempre sai uma
referência a órgãos sexuais. Comparações, apenas referentes a
sexo. Da mesma forma elogios e achincalhamentos. A salvação vem
pela cultura, pelo conhecimento de elite produzido pela raça humana,
pelas artes clássicas e pensamentos de grandes mentes. Enquanto isso
não vem, não nos veremos livres da mediocridade crescente que se
espalha como fogo em palha seca. Que Deus tenha piedade de nós!
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