Título: Em Defesa da Comida – Um Manifesto
Autor: Michael Pollan
Editora: Intrínseca
ISBN: 978-8598-078-335
Quem nunca se viu confuso diante das
notícias sobre resultados de estudos sobre alimentos? Uma semana o
café faz mal; na outra, é aconselhável. Ora o ovo é um vilão,
ora é um heroi nutricional. Na última década, um alimento xis era
celebrado por muitos; hoje, é execrado por todos. A dieta que antes
era garantia de saúde agora foi condenada ao esquecimento. Esses
poucos fatos servem para ilustrar o quanto a ciência da nutrição é
incipiente em mensurar os reais benefícios (ou malefícios) dos
alimentos. Mas, e se, de repente, não apenas
esses fatos isolados estivessem equivocados? E se de repente
descobríssemos que a atual dieta ocidental está apoiada sobre
falsos fundamentos nutricionais? E se os alimentos que comemos
diariamente na verdade estão nos tornando doentes? E se os
propalados benefícios de determinada comida na verdade estão nos
intoxicando? Se isso tudo de repente nos surge como verdade, haveria
saída para nós?
O jornalista Michael Pollan decidiu
investigar a veracidade do que nos vendem a indústria e a mídia da
alimentação. O resultado de entrevistas, conversas informais,
pesquisas e leitura de artigos foi compilado na obra Em Defesa da
Comida – Um Manifesto. O que Pollan fez não é diferente do que
uma pessoa comum faz ou poderia fazer: empreender uma jornada em
busca do que se oculta sob rótulos e promessas de benefícios à
saúde de alimentos industrializados. Talvez sua única vantagem em
relação ao cidadão comum seja o fato de ele ser jornalista, o que
lhe permitiu ter acesso a grandes nomes da área, sejam cientistas ou
nutricionistas, além de farto acesso a literatura relacionada. Desse
modo, seu livro nos poupa o trabalho de ir em busca de informações
criteriosas, entregando-nos dados valiosos a respeito (cujas fontes,
listadas ao final, podem ser consultadas pelos leitores mais interessados). Seu livro é, no mínimo,
interessante.
Pollan resume seus princípios
alimentares em três premissas: “Coma comida. Não em exceso.
Principalmente vegetais”. Cada uma delas é desdobrada em um
tópico independente. Por exemplo, ele sugere que comamos comida, o
que nos remete ao questionamento: mas o que é comida? A ordenança
sugere que esse simples conceito talvez não seja tão simples de
depreender no mundo de hoje, com a numerosa oferta de produtos
alimentícios desenvolvidos em laboratórios e preparados em
indústrias de processamento. Pollan defende o retorno às origens,
ou seja, substituindo o atual leque de opções disponíveis nos
supermercados (a maioria artificial) pela culinária de nossos avós
(ou ainda antes deles), ampliando o cardápio com a maior diversidade
de vegetais possível – e, de preferência, oriundos de fazendas
orgânicas.
Em seu livro, Pollan
registra ainda que provavelmente o maior vilão da atualidade seja o
carboidrato refinado (aquele encontrado na farinha de trigo fina, no
açúcar refinado e no arroz branco), sendo o principal responsável
pelas doenças crônicas da atualidade. Ele defende ainda que as
dietas regionais (como a francesa, a mediterrânea) devem ser
consideradas como uma combinação testada e aperfeiçoada através
dos anos, por várias gerações, e não devem ser vistas através de
suas partes isoladas, mas como um todo. A propósito, Pollan data o início do “nutricionismo” – e o fim da alimentação de
verdade – quando a ciência começou a dissecar os alimentos em
seus componentes (a fim de reconstruí-los artificialmente). Uma decisão infeliz, visto
que, nesse caso, o todo é maior que a soma das partes.
O livro reflete bem a
questão alimentícia nos Estados Unidos, que pode ser extendida à
maioria dos países que adotaram os mesmos hábitos (Brasil incluso),
conhecidos como dieta ocidental. No entanto, o Brasil parece estar em
uma situação um pouco melhor, ao menos no que se refere ao consumo
de junk food e semelhantes. E nossas regiões mais agrárias, como algumas localidades do Norte e
Nordeste, parecem seguir uma alimentação mais nutritiva devido à
diversidade das culturas regionais e ao consumo de menos produtos
industrializados, o que inclui leite in natura
e ovos de galinhas criadas comendo pasto.
Seguem
algumas premissas propostas pelo autor a fim de balizar um consumo
mais saudável:
- Não coma nada que sua avó não reconheceria como comida
- Evite comidas contendo ingredientes cujos nomes você não possa pronunciar
- Não coma nada que não possa um dia apodrecer
- Evite produtos alimentícios que aleguem vantagens para sua saúde
- Compre comida em outros lugares [que não o supermercado], como feiras livres ou mercadinhos hortifrútis
- Pague mais, como menos
- Coma uma variedade maior de alimentos
- Prefira produtos provenientes de animais que pastam
- Cozinhe e, se puder, plante alguns itens de seu cardápio
- Prepare suas refeições e coma apenas à mesa
- Coma com ponderação, acompanhado, quando possível, e sempre com prazer
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