Título: O Mestre das Armas (Fearless)
Diretor: Ronny Yu
Elenco principal: Jet Li, Dong Yong e Betty Sun
Ano: 2006
Há muitas pessoas que torcem o nariz
para filmes de artes marciais. É claro que se trata de uma escolha,
mas o ideal é que uma escolha desse porte não seja tomada com base
em falsas premissas, afinal, pode-se criticar o que quiser, desde que
se tenha conhecimento de causa para fazê-lo. Embora haja, de fato,
maus filmes de artes marciais, muitos inclusive que apresentam seus
personagens realizando movimentos fisicamente impossíveis – o que,
curiosamente, não impediu que um desses filmes tenha sido agraciado
na premiação do Oscar* –, alguns são dignos de nota, seja pelo
roteiro, seja pelas cenas de luta. O Mestre das Armas se
sobressai em ambos os aspectos.
Estrelado por Jet Li, que dispensa comentários – provavelmente o
maior ator de artes marciais da atualidade (embora ele tenha afirmado
que esse foi seu último filme do estilo) –, o filme faz alusão à
vida de Huo Yuanjia, um chinês que viveu entre os
séculos XIX e XX e considerado herói
nacional. Ele foi responsável por divulgar as artes marciais de seu
país quando a soberania chinesa estava sendo abalada pela invasão
estrangeira, através da abertura de escolas de treinamento e
demonstrações de superioridade das artes
marciais chinesas em combates com
representantes de outros estilos de luta de
outros países. O
filme não faz um retrato fiel da vida de Huo Yuanjia (até
mesmo porque, uma vez que a mesma está
envolta em lendas, isso seria
uma tarefa difícil
de realizar), o
que lhe rendeu críticas e um processo por parte dos descendentes do
Yuanjia real, mas não deixa de contar a
essência de sua importância. A licença
poética de que se vale o diretor é a
mesma que distorce as histórias das HQs ao serem adaptadas
para o cinema.
Quando
criança, Yuanjia era uma criança doente, proibida por seu pai de
praticar o estilo de luta da família –
wushu. Após perder vergonhosamente uma
luta para outra criança com aproximadamente a mesma idade, promete
nunca mais perder para ninguém. O enredo é
adiantado em alguns anos, indo encontrá-lo
já adulto e com uma filha e aclamado como o melhor lutador da
região, a quem vários desafiantes corriam a enfrentá-lo.
Inconsequente de seus atos, Yuanjia
comete um grande erro que, por sua vez,
incorre em uma grande desgraça em sua vida. Atordoado pelos
acontecimentos, vagueia até encontrar um
povoado rural onde passa alguns anos e aquieta seu ímpeto por
combates, passando a admirar a grandeza das pequenas coisas. É
quando decide retornar a sua província
natal.
Lá chegando, não
reconhece a cidade que deixou para trás, agora invadida por
imigrantes e costumes estrangeiros conflitantes com os costumes
tradicionais chineses. Mas algo chama sua atenção: uma matéria em
um jornal onde um lutador de luta-livre desafia os lutadores
chineses, apelidando-os de “homens doentes da Ásia”. Yuanjia o
enfrenta e o vence, elevando a moral nacional. Indignados, os
dirigentes estrangeiros promovem um torneio onde Yuanjia tem de
enfrentar quatro oponentes de diferentes estilos e armas de luta.
Esse é o cenário de início e fim da produção, que é contada em
flash back (retrospecto).
Para os aficionados da
sétima arte, O Mestre das Armas talvez não seja de grande
interesse, mas para o espectador médio, preocupado apenas em lazer
de boa qualidade, ele oferece um bom retorno. O Yuanjia do filme é
um lutador inveterado que vê na luta um fim em si mesmo, mas, ao
modificar sua conduta em consequência de seus atos, percebe que deve
existir algo maior que justifique o uso da força – em seu caso, a
soberania da nação. Apesar do nome completamente equivocado e
incoerente do título em português – o original é Fearless
(destemido) – e de não contar a história do Yuanjia real, o filme
conta a história de um homem que aprende, a partir de seus erros, os
valores da vida que devem balizar nossas ações e legitimá-las. E
isso é uma verdade universal.
* O Tigre e o Dragão (melhor filme
estrangeiro, melhor fotografia, melhor direção de arte e melhor
trilha sonora)
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