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domingo, 15 de setembro de 2013

Sugestão de filme




Título: O Mestre das Armas (Fearless)
Diretor: Ronny Yu
Elenco principal: Jet Li, Dong Yong e Betty Sun
Ano: 2006







Há muitas pessoas que torcem o nariz para filmes de artes marciais. É claro que se trata de uma escolha, mas o ideal é que uma escolha desse porte não seja tomada com base em falsas premissas, afinal, pode-se criticar o que quiser, desde que se tenha conhecimento de causa para fazê-lo. Embora haja, de fato, maus filmes de artes marciais, muitos inclusive que apresentam seus personagens realizando movimentos fisicamente impossíveis – o que, curiosamente, não impediu que um desses filmes tenha sido agraciado na premiação do Oscar* –, alguns são dignos de nota, seja pelo roteiro, seja pelas cenas de luta. O Mestre das Armas se sobressai em ambos os aspectos.

Estrelado por Jet Li, que dispensa comentários – provavelmente o maior ator de artes marciais da atualidade (embora ele tenha afirmado que esse foi seu último filme do estilo) –, o filme faz alusão à vida de Huo Yuanjia, um chinês que viveu entre os séculos XIX e XX e considerado herói nacional. Ele foi responsável por divulgar as artes marciais de seu país quando a soberania chinesa estava sendo abalada pela invasão estrangeira, através da abertura de escolas de treinamento e demonstrações de superioridade das artes marciais chinesas em combates com representantes de outros estilos de luta de outros países. O filme não faz um retrato fiel da vida de Huo Yuanjia (até mesmo porque, uma vez que a mesma está envolta em lendas, isso seria uma tarefa difícil de realizar), o que lhe rendeu críticas e um processo por parte dos descendentes do Yuanjia real, mas não deixa de contar a essência de sua importância. A licença poética de que se vale o diretor é a mesma que distorce as histórias das HQs ao serem adaptadas para o cinema.

Quando criança, Yuanjia era uma criança doente, proibida por seu pai de praticar o estilo de luta da família – wushu. Após perder vergonhosamente uma luta para outra criança com aproximadamente a mesma idade, promete nunca mais perder para ninguém. O enredo é adiantado em alguns anos, indo encontrá-lo já adulto e com uma filha e aclamado como o melhor lutador da região, a quem vários desafiantes corriam a enfrentá-lo. Inconsequente de seus atos, Yuanjia comete um grande erro que, por sua vez, incorre em uma grande desgraça em sua vida. Atordoado pelos acontecimentos, vagueia até encontrar um povoado rural onde passa alguns anos e aquieta seu ímpeto por combates, passando a admirar a grandeza das pequenas coisas. É quando decide retornar a sua província natal.

Lá chegando, não reconhece a cidade que deixou para trás, agora invadida por imigrantes e costumes estrangeiros conflitantes com os costumes tradicionais chineses. Mas algo chama sua atenção: uma matéria em um jornal onde um lutador de luta-livre desafia os lutadores chineses, apelidando-os de “homens doentes da Ásia”. Yuanjia o enfrenta e o vence, elevando a moral nacional. Indignados, os dirigentes estrangeiros promovem um torneio onde Yuanjia tem de enfrentar quatro oponentes de diferentes estilos e armas de luta. Esse é o cenário de início e fim da produção, que é contada em flash back (retrospecto).
 
Para os aficionados da sétima arte, O Mestre das Armas talvez não seja de grande interesse, mas para o espectador médio, preocupado apenas em lazer de boa qualidade, ele oferece um bom retorno. O Yuanjia do filme é um lutador inveterado que vê na luta um fim em si mesmo, mas, ao modificar sua conduta em consequência de seus atos, percebe que deve existir algo maior que justifique o uso da força – em seu caso, a soberania da nação. Apesar do nome completamente equivocado e incoerente do título em português – o original é Fearless (destemido) – e de não contar a história do Yuanjia real, o filme conta a história de um homem que aprende, a partir de seus erros, os valores da vida que devem balizar nossas ações e legitimá-las. E isso é uma verdade universal.


* O Tigre e o Dragão (melhor filme estrangeiro, melhor fotografia, melhor direção de arte e melhor trilha sonora)

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