Há alguns dias li em
uma revista de grande circulação nacional uma reportagem sobre a
ascensão da compra de livros no Brasil. Compra e publicação. Os
números apresentados na matéria referentes a essas duas ações são
utilizados, em determinado momento, para quantificar os leitores de
nossa terra. Será?
Lembro que há alguns
anos o livro O Universo numa Casca de Noz (de Stephen Hawking)
figurou durante várias semanas na lista de best-sellers
nacional. Embora utilizasse uma linguagem simples (até onde
possível) e belas ilustrações (que não merecem ser classificadas
de outra forma que não perfeitas) para falar sobre teorias modernas
(e complexas) da física, certamente foi um (ou senão o) dos livros
menos lidos do ano. Compreendo que não é uma leitura fácil (pois o
li), mas decerto essa prática de comprar livros para enfeitar
estantes não se restringiu somente a ele.
Dos milhões de livros
comprados pela nossa gente, não me espantaria se ao menos a metade
permanecesse com as páginas virgens, empoeirasse e mofasse pelos
cantos, ou servisse apenas como guarda-papeis para pessoas em
trânsito. Ou ainda – tolice das tolices – para ostentação.
Quem é adepto dessa última prática deveria saber que a utilidade
do livro só se revela depois de lido, nunca antes, ainda que para
fins escusos.
Na mesma reportagem é
descrito um critério adotado atualmente para confecção de livros.
Devem ter capítulos pequenos e letras grandes. Seria para facilitar
a leitura? Claro que não. Esse é um método utilizado para cativar
os “leitores” (traduzindo: vender). É uma maneira encontrada
para evitar que os livros não convençam enquanto nas prateleiras e,
uma vez levados para casa, consigam instigar o leitor a percorrer
todas as páginas (algo menos importante). Isso porque, na prática,
o Brasil está aprendendo a ler agora, depois de cinco séculos de
vida. Tal qual uma criança mimada que tem que ser afagada por fazer
o que é certo, ou um animal em adestração que é premiado a cada
ordem cumprida, nosso leitores apenas leem os livros que “se
comportam”, atendendo a seus critérios, com letras grandes e
poucas páginas, a fim de acelerar o término da leitura
Lembro de um texto, A Árvore de Beto. Um texto pequeno, em torno de vinte e
poucas linhas, mais ou menos. Acreditava que este era o mais longo
texto do livro da segunda série – que era do meu irmão do meio.
Depois de ter lido todos os outros textos, incluindo o do cavalo de
fogo e a montanha de vidro e o da onça e da raposa, que eram tão
longos quanto, finalmente muni-me de coragem e, numa determinada
manhã, li-o. Ao final, o chamado de minha mãe para o café e a
sensação de que a barreira vencida – que ofereceu pouca
resistência – abriu um universo de possibilidades. Textos
compridos poderiam ser lidos por mim. Isso foi antes de eu ingressar
na escola.
Esses livros dos
primeiros anos traziam letras grandes, parágrafos curtos e linguagem
simples (embora tenha aprendido a palavra “baldio” nesse texto).
Também vinham diagramados em colunas pouco largas e acompanhados de
desenhos para incitar o gosto pela leitura nos pequenos. É curioso
ver que hoje esses mesmos recursos, com poucas variações, são
utilizados para incentivar também os leitores de muita idade.
Minha esperança é
que, a partir desse momento de leitura incipiente que ora vivemos,
possam surgir verdadeiros leitores. Pessoas que leem pelo prazer de
ler, pela sede de conhecimento, e não apenas procuram títulos
fáceis que discorrem sobre obviedades e coisas inúteis. Que
conheçam os clássicos, mesmo os de letras miúdas, e possam se
libertar do julgo da indústria livreira (longe de ser literária),
trilhando caminhos próprios que achem devidos.
Olá, Josué! Muito interessante o seu blog e a forma como você expressa as suas ideias. Com relação aos livros, lamentavelmente é verdade que esses números não quantificam os leitores da nossa terra, mas cabe a nós contribuir para a mudança dessa realidade, ensinando bons hábitos aos nossos filhos. A Letícia, com apenas 1 ano, tem até livro de banho, rsrsrs. Que boa memória a sua, hein?! Lembrar do texto que te ensinou a palavra "baldio"! Abraços e depois eu volto.
ResponderExcluirObrigado, Aryana! Que bom que a Letícia está no caminho certo. Parabens! Fique à vontade para comentar sempre que quiser.
ResponderExcluirAbraço