O que chamamos de evolução do homem na verdade não passa de uma base de apoio constituída de cultura, sem a qual ele retorna a sua condição primitiva
Propala-se que o Homem
tem evoluído ao longo dos séculos. Diz-se que saiu do estado
selvagem para a vida em sociedades organizadas como a nossa; que
tornou-se culto e inteligente em contraste com o primata atrasado e
ignorante de outrora. Criamos os cultos, as leis, as máquinas.
Alteramos a Natureza – o curso dos rios, as formas dos frutos, a
estrutura molecular. Mas será que estamos contando a história
direito? Ou esse é o ponto de vista dos que se pegam deslumbrados
com o progresso da raça humana?
Talvez os fatos não se
ponham dessa forma. Podemos dizer que o homem primitivo, ao
principiar a descoberta da Ciência – mola propulsora de tudo
quanto há, juntamente com a Arte –, percebeu um caminho a trilhar,
um monte a galgar. Mas, estranhamente, ele era o responsável por
construir o caminho e erguer o monte. Começou a produção do
conhecimento. O modo de vida sofreu impactantes mudanças desde
então: a cultura, as regras de convivência na comunidade, a
comunicação.
No entanto, parecem não
ter sido suficientes tantas descobertas, tantos avanços feitos em
direção à modernidade e à civilização. Periodicamente irrompem
hecatombes em algum lugar do mundo, provocando mortes, dor e
sofrimento. É a natureza selvagem do Homem que se agita em seu
interior. Vestida em seu denso sobretudo de civilidade, aflora à
superfície para mostrar a condição inata da raça. A cada vez que
isso ocorre, as desgraças são potencialmente maiores, pois o
conhecimento produzido entre uma e outra "erupção" é
utilizado como arma. É o Homem que se despe das aparências; da
evolução que não ocorreu no seu interior, mas no ambiente em que
vive. Vemos atualmente a tentativa de “civilizar” os conflitos,
através de novas tecnologias que permitem matar mais e melhor. É o
Homem em busca de apagar os vestígios de sua índole, seu rastro na
História.
O Homem não evoluiu. É
o mesmo que, há muitos séculos, tomou a empresa de construir uma
estrada, galgar um monte. Atualmente, já vai bem longe, bem alto,
mas intimamente é o mesmo. A transformação ocorreu em seus
hábitos, que deram vez a atos mais comedidos; os atos brutais, esses
adormeceram no interior da alma humana, aguardando sempre a época de
despertar de maneira cataclísmica. Basta apenas que a estrada suma
sob seus pés, ou o monte o qual encima perca sua base, para que se
veja reduzido à condição primitiva, em disputas com seus
semelhantes, destruindo seus irmãos. É o que acontece em grupos
isolados, "primitivos", no centro de uma grande metrópole,
formados por pessoas sem acesso à educação, cultura e aos meios de
vida da sociedade moderna. O Homem construiu um andaime rumo ao céu,
de onde olha com altivez o caminho percorrido até aquele ponto, e
continua a percorrer o andaime que vai ele próprio erigindo. Mas não
o fará indefinidamente. Aquele ruirá com seu próprio peso e o
Homem amargará o retorno às origens após ter ido tão longe. As
línguas serão novamente confundidas.
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