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terça-feira, 10 de julho de 2012

Ser jovem

Se é para ser jovem como muitos por aí que tem uma juventude de cinco anos de duração, prefiro ser chamado de velho

Há pouco tempo alguém me perguntou se eu iria para uma dessas festas (melhor dizendo, ajuntamento) populares, onde todo mundo se acotovela, não consegue dançar e anda arrastando os pés para não perder o espaço no chão. Respondi que não, e ouvi em resposta que não sou jovem. Bem...

Sim, concordo que não estou na idade dos que beiram os vinte anos, pouco mais ou menos. Estou no início de minha terceira década de vida. Coisas que eram interessantes e/ou divertidas há doze anos deixaram de ser, ao passo que outras que não queria perto agora são chegadas. Mudamos nossas ações com o tempo, mas o que permanece é o espírito. A propósito, não é comum hoje em dia aquela corrente de que o que deve permanecer jovem é o espírito? Mas o fato de terem me chamado de idoso talvez careça de uma melhor observação.

O que a maioria das pessoas entende por ser jovem? Parece-me que muitos entendem que ser jovem é dormir durante o dia (a menos quando não se está angariando um câncer de pele na praia), acordar à noite, atravessá-la em baladas, perder a consciência na embriaguez do álcool e chegar em casa maltrapilho na manhã seguinte. Talvez essa visão esteja correta. E também talvez seja por isso que o Brasil nunca conseguiu ser o país do futuro como previsto.

Naturalmente, esse é um programa que interessa a muitos jovens, movidos e guiados unicamente por seus hormônios. Em todos os lugares do mundo isso ocorre, o que denota que, a despeito de um padrão cultural, pode indiciar uma característica da natureza humana. Tudo bem, uns tempos de loucura são permitidos a todos. Minha, digamos, indignação, é com aqueles que limitam ser jovem a uma vida de atitudes inconsequentes. Não tem interesse por nada, apenas por frivolidades. Desrespeitam os mais velhos, aborrecem os mais novos. Imaginam que o mundo amanhã não lhes cobrará nada.

O engraçado é que a maioria desses jovens estarão aposentados aos vinte e cinco anos. Casarão, se acomodarão na poltrona, verão mais televisão, dormirão cedo para fazer o grande esforço de acordar também cedo para ir trabalhar. Passarão bastante tempo em casa, os amigos ficarão distantes, a rua tornar-se-á uma companhia estranha. Os dias de glória se situarão no período entre os quartorze e vinte e poucos anos. Não esperarão mais nada da vida, a não ser se aposentar.

Particularmente, não me troco por jovens desse naipe. Apesar da idade, tenho me dedicado a algumas atividades de meu interesse. Por falta de tempo, algumas estão adiadas. Estudo dois idiomas, pratico atividades físicas (malhação, pilates, corrida – procurando uma brecha para a natação), curso uma segunda faculdade, tenho um emprego de oito horas diárias, leio livros, toco um instrumento, dedico-me à fotografia, faço trilhas sempre que posso, mantenho esse blog. Apesar de ser voluntário em um grupo na empresa onde trabalho, estou trabalhando em um projeto especial relacionado a algo com o qual me preocupo. Ainda tenho outros projetos em gestação. Enquanto muitos temem a aposentadoria por não saberem o que fazer naqueles tempos, eu já tenho várias ideias em mente.

Ao contrário de muitos jovens que, para se divertirem, precisam de drogas (álcool também está nessa categoria) e coisas do gênero, consigo encontrar prazer nas pequenas coisas. Uma amizade sincera, uma música bonita, uma boa leitura, uma bela paisagem. Não preciso esperar o carnaval para ser feliz uma vez por ano. Não tenho que aguardar as festas juninas para me divertir. Dispenso perder uma noite de sono em festas onde ninguém consegue se ouvir. Posso me sentir bem durante todo o ano, sem depender de nada, sem a ajuda de festa alguma, de nenhum evento.

Se nada disso traduz ter um espírito jovem, então renuncio meu anseio de juventude e aceito de bom grado meu título de decrépito.

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