Se é para ser jovem como muitos por aí que tem uma juventude de cinco anos de duração, prefiro ser chamado de velho
Há pouco tempo alguém me perguntou
se eu iria para uma dessas festas (melhor dizendo, ajuntamento)
populares, onde todo mundo se acotovela, não consegue dançar e anda
arrastando os pés para não perder o espaço no chão. Respondi que
não, e ouvi em resposta que não sou jovem. Bem...
Sim, concordo que não estou na idade
dos que beiram os vinte anos, pouco mais ou menos. Estou no início
de minha terceira década de vida. Coisas que eram interessantes e/ou
divertidas há doze anos deixaram de ser, ao passo que outras que não
queria perto agora são chegadas. Mudamos nossas ações com o tempo,
mas o que permanece é o espírito. A propósito, não é comum hoje
em dia aquela corrente de que o que deve permanecer jovem é o
espírito? Mas o fato de terem me chamado de idoso talvez careça de
uma melhor observação.
O que a maioria das pessoas entende
por ser jovem? Parece-me que muitos entendem que ser jovem é dormir
durante o dia (a menos quando não se está angariando um câncer de
pele na praia), acordar à noite, atravessá-la em baladas, perder a
consciência na embriaguez do álcool e chegar em casa maltrapilho na
manhã seguinte. Talvez essa visão esteja correta. E também talvez
seja por isso que o Brasil nunca conseguiu ser o país do futuro como
previsto.
Naturalmente, esse é um programa que
interessa a muitos jovens, movidos e guiados unicamente por seus
hormônios. Em todos os lugares do mundo isso ocorre, o que denota
que, a despeito de um padrão cultural, pode indiciar uma
característica da natureza humana. Tudo bem, uns tempos de loucura
são permitidos a todos. Minha, digamos, indignação, é com aqueles
que limitam ser jovem a uma vida de atitudes inconsequentes. Não tem
interesse por nada, apenas por frivolidades. Desrespeitam os mais
velhos, aborrecem os mais novos. Imaginam que o mundo amanhã não
lhes cobrará nada.
O engraçado é que a maioria desses
jovens estarão aposentados aos vinte e cinco anos. Casarão, se
acomodarão na poltrona, verão mais televisão, dormirão cedo para
fazer o grande esforço de acordar também cedo para ir trabalhar.
Passarão bastante tempo em casa, os amigos ficarão distantes, a rua
tornar-se-á uma companhia estranha. Os dias de glória se situarão
no período entre os quartorze e vinte e poucos anos. Não esperarão
mais nada da vida, a não ser se aposentar.
Particularmente, não me troco por
jovens desse naipe. Apesar da idade, tenho me dedicado a algumas
atividades de meu interesse. Por falta de tempo, algumas estão
adiadas. Estudo dois idiomas, pratico atividades físicas (malhação,
pilates, corrida – procurando uma brecha para a natação), curso
uma segunda faculdade, tenho um emprego de oito horas diárias, leio
livros, toco um instrumento, dedico-me à fotografia, faço trilhas
sempre que posso, mantenho esse blog. Apesar de ser voluntário em um
grupo na empresa onde trabalho, estou trabalhando em um projeto
especial relacionado a algo com o qual me preocupo. Ainda tenho
outros projetos em gestação. Enquanto muitos temem a aposentadoria
por não saberem o que fazer naqueles tempos, eu já tenho várias
ideias em mente.
Ao contrário de muitos jovens que,
para se divertirem, precisam de drogas (álcool também está nessa
categoria) e coisas do gênero, consigo encontrar prazer nas pequenas
coisas. Uma amizade sincera, uma música bonita, uma boa leitura, uma
bela paisagem. Não preciso esperar o carnaval para ser feliz uma vez
por ano. Não tenho que aguardar as festas juninas para me divertir.
Dispenso perder uma noite de sono em festas onde ninguém consegue se
ouvir. Posso me sentir bem durante todo o ano, sem depender de nada,
sem a ajuda de festa alguma, de nenhum evento.
Se nada disso traduz ter um espírito
jovem, então renuncio meu anseio de juventude e aceito de bom grado
meu título de decrépito.
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