Muita gente gosta de aparecer porque faz viagem internacional, mas são tão pobres culturalmente que nem conseguem aproveitar o passeio
Certa feita li uma entrevista em um desses suplementos de jornais que trazia uma entrevista com um professor universitário. À pergunta sobre qual seu destino preferido nas férias, ele informou o nome de três cidades americanas bem conhecidas, arrematando com “ambas nos Estados Unidos”.
Certa feita li uma entrevista em um desses suplementos de jornais que trazia uma entrevista com um professor universitário. À pergunta sobre qual seu destino preferido nas férias, ele informou o nome de três cidades americanas bem conhecidas, arrematando com “ambas nos Estados Unidos”.
Bem, talvez ele tenha se equivocado, ou quem sabe o repórter tenha alterado sua resposta, ou ainda ele realmente não soubesse que o numeral (isso mesmo) “ambos” refere-se a dois termos, e não a três. Há quem defenda que, por não ser um profissional da área de linguística, não se deve cobrar esse conhecimento. É verdade que nem todo falante deve conhecer as entranhas de seu idioma (como saber que “bastantes” existe ou não franzir o cenho ao ver palavras como gâmbia, édulo, procrastinar, escol), mas é surpreendente que pessoas de um considerável nível social (e aparentemente cultural) desconheçam simplicidades da língua materna.
Mas não é sobre idiomas que quero chamar a atenção. Embora talvez não seja o caso do professor da entrevista, a verdade é que há muita gente que faz questão de se exibir pelo fato de conhecer lugares ditos prestigiados, como a América Anglo-Saxônica ou a Europa. Mas a maior verdade é que, visitando esses lugares, apenas conseguem contrastar a vasta cultura de outros povos com sua incrível ignorância. Adoram passear em civilizações avançadas e supõem-se também avançados, mas no fundo não passam de bichos na cidade grande.
Longe de mim defender que não devemos viajar para os países desenvolvidos. Pelo contrário, todos que puderem devem ir a fim de constatarem o quanto somos atrasados e ao menos uma vez na vida ver de perto o que é desenvolvimento, uma vez que nem em mil anos o Brasil será um país civilizado. O que não suporto são pessoas que posam de intelectuais porque “conhecem” a Europa ou os Estados Unidos. Na verdade eles apenas fogem de sua própria ignorância, mas esquecem-se que esta está dentro deles mesmos. São pessoas que se encantam com as ruas limpas desses lugares, mas não pensam duas vezes antes de jogar lixo na rua da cidade onde moram. São pessoas que nem tem cultura e conhecimento suficiente para apreciar as culturas de outros países. São pessoas que elogiam os bons modos dos estrangeiros, mas destratam o porteiro de seu prédio. Adoram a cultura internacional, mas são incapazes de ler um livro. São pessoas que visitam os pontos turísticos óbvios, pois não tem condição alguma de, segundo seus próprios critérios, escolher e avaliar um lugar de sua preferência. São pessoas que desprezam qualquer viagem dentro do país e acham que só lá fora há o que se ver. O fato é que eles carecem de disfarçar sua falta de intelectualidade, cobrindo-se de viagens chiques.
Se você é um desses, que adora colher o fruto do pé, mas detesta plantar a árvore, saiba que só contribui para a perpetuação do atraso brasileiro. E lembre-se: para os verdadeiramente entendidos, qualquer lugar é interessante.
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