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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Tempo

O tempo é ágil
Corre tresloucado
como um rio caudaloso
“Temos tempo!”, dizem os pequenos
“Não há mais tempo...”, suspiram os fatigados
Grande infelicidade é –
quando novos –
acreditarmos que o tempo é nosso amigo
Quanta tristeza há –
em sendo velhos –
não termos sido dele companheiros
Um dia após o outro é remédio
dirão alguns
Sim
se contínuos como barbantes atados
Mas dias ao acaso
espaçados por décadas
São testemunhas do tempo
De um tempo que corrói
De um tempo que não perdoa nem faz distinção
Justo à sua maneira
mas nunca o suficiente para nós
ávidos por vida eterna
Quando perceberes
que as décadas que conheceste
estão cada vez mais distantes
E que filhos gerados por elas
alcançam a altura de teus ombros
perceberás o adiantado da vida
Quando teu coração palpitar
e teus concupiscentes desejos
cobiçarem a outrora criança
saberás tristemente
o quanto os dias se hão esvaído
Sábio é aquele que percebe que o segredo da vida
não é lutar contra o tempo
mas entregar-se a ele
Ó ouvis:
Quando criança
te regala bastante
Aproveita o colo de tua mãe
e os abraços de teu pai
Aprende com os tenros companheiros
a inocência do sorrir
a dádiva do olvidar
e os laços da amizade
Folga ao largo das águas
de todas as fontes
e em todas as formas
Brinde o Sol
e saúde a Lua
Pinta o mundo nos mais diversos matizes
e enxerga-o de um modo que nunca mais o verás
Guarda bem essas lembranças
para invocá-las nos dias maus
Em tua juventude
não te amedrontes ao ver descolorir-se a vida
Ainda assim perceberás
quantos tesouros tens a encontrar
Teus companheiros serão maiores e mais fortes
do que nunca imaginaste
Alegra-te em vê-los, pois caminharão contigo
serão amparo e amparados por ti
Não te iludas com a paixão
mas deixa florescer o amor
Cultiva-o para cresceres e ser forte um dia
Nas passagens de dia a que assistires
atenta que são passageiras
e disso não tirarás teu sustento
Cuida em ser bom
e aplica-te a ofícios
para que tenhas um bom caminho a trilhar
Se já adulto
sê justo e responsável
Não porque esperam isso de ti
mas porque é o tempo que te conclama
Ama tua companheira como amaste a poucas coisas na vida
Vive com ela a plenitude de um único ser
para que não feneça jóia tão preciosa
A teus filhos, teu tudo
Dá-lhes o ordinário e o impensável
pois o mundo lhes será credor
Ajude o fraco e ampare o cansado
Sê esteio de muitos
E quando atingires a plena maturidade
conforma-te com o traçado de tua vida
Tenha um bom coração
e orienta os pouco sagazes
Que tuas cãs sejam bom alvitre
e não motivo de desonra
Aproveita os frutos que plantaste
Acolha os aflitos
Desfruta o coração daquela que te acompanhou até aqui
E aguarda o inexorável fim
não com a covardia dos fracos
mas com a bravura dos indômitos
Em todos os momentos porém
o tempo te trará perdas
As lembranças te acossarão
mas ele também as levará em seu devaneio
Tempo...
Tudo é tempo
Tempo...
é tudo

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