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terça-feira, 27 de março de 2012

A carga do homem

Todos dizem que vida de mulher é difícil, cheia de obstáculos. Será?

Não vou aqui cometer o absurdo de dizer que não existe violência contra a mulher (embora numericamente acredito que haja muito mais violência contra o homem, mas o que conta aqui são fatores não-numéricos) ou que em algumas circunstâncias não haja discriminação. Mas será que realmente o cão é tão feio como pintam? Ou será que são ecos de um movimento feminista hoje decrépito? Também não irei advogar que as mulheres não recebam o máximo de atenção, respeito e carinho. Afinal, elas são, para nós homens, a melhor parte da Criação, que nos motivam a maior parte do tempo a fazer as coisas mais inteligentes e também as mais idiotas. Mas o quero mostrar aqui é uma visão um pouco mais perspicaz do tratamento que os homens recebem em detrimento delas.

Primeiro, porque o homem tem que fazer e ser tudo em um relacionamento?1 Na grande maioria dos casos o homem tem que cortejar, convidar para sair, escolher o lugar, fazer a programação, ir buscar, ir levar, ser atencioso, demonstrar confiança, etc. Tem que ser divertido, tem que ser amável, criativo, inteligente, interessante, bem arrumado (entenda-se: roupas e perfumes caros), bem-sucedido, saber dançar, ser aventureiro, ser romântico, ser desinibido, ser um maratonista sexual, etc. Já sei que a resposta da querida leitora é: “Claro! Já estamos dando o privilégio de ele sair conosco, tem que ser nessas condições!”. Será? Tudo bem, mas qual a contrapartida disso? Será que apenas o fator “ser mulher” basta?2

Em Contabilidade há um método de escrituração (registro) chamado método das partilhas dobradas, onde, para cada lançamento de débito/crédito, há um outro correspondente (de igual valor) de crédito/débito. Pois bem, o homem se esfalfa para conquistar uma mulher, mas em compensação o que a mulher oferece? A pergunta parece óbvia, mas pode esconder um revés para você, leitora. Em situações normais o homem escolhe uma mulher por sua beleza, unicamente. Natural. Você está em uma festa com várias pessoas, qual critério você deve usar para se aproximar de outra? O único plausível é a aparência física. Pois bem. O homem consegue descolar uma garota, sai com ela. Pra isso ele fez um grande número de malabarismos (inclusive se passando por coisas que não é, mas que a cartilha prega como necessário) e finalmente ganha o coração dela. Pergunto eu: o que ela ofereceu até então? Só a beleza? Apenas sexo? Ele a conquistou, mas essa é toda a história? Será que ela também não tem que ser inteligente, divertida, independente? Será que é válido premiar o homem apenas com a beleza (e às vezes o sexo)?

Se for assim, então estamos abrindo precedentes para: 1) determinar a beleza como modus operandi dos relacionamentos; 2) concordar que o homem parta para outro relacionamento tão logo a beleza acabe (ou encontre outra); 3) facilitar ao homem engatar um relacionamento com a primeira pessoa mais interessante que encontrar. Embora você possa não concordar (e obviamente isso não se aplica a todos os casos, apenas aos clássicos – homem vê uma mulher bonita, chama pra sair, engatam um romance), esse cenário é bastante comum. Não parece muito sábio confiar a integridade de um relacionamento apenas à moral masculina de não trair. O homem bem-sucedido, independente, com carrão (e nem venha me dizer que isso não é atrativo porque definitivamente esse é o atrativo por excelência), formado, viajado, gastou bastante de seu tempo para chegar até essa condição, e parece antagônico estar com alguém que tenha tão pouco a oferecer em contrapartida (nos vários casos em que a mulher nem ao menos tem faculdade ou nunca trabalhou, e não se interessa nem por um nem por outro).

Entendo que no reino animal o macho quase sempre é maior, mais vistoso, tem habilidades (como no caso das aves canoras, onde apenas o macho canta, ou os sapos-machos que coaxam), mas se usarmos esse pretexto para justificar nossas relações, devemos nos preparar também para jogar fora milhares de anos de civilização e avanços que nos distinguem dos animais. Devemos também aceitar que seja natural entregarmo-nos aos instintos primitivos de vingança e perversidade.

Não sou niilista ao ponto de propor uma nova forma de cortejamento. Apenas seria aprazível se os homens saíssem com pessoas do sexo oposto na expectativa de se divertirem com alguém legal – atraente não só na aparência, mas como um todo –, e não apenas na expectativa de não falharem no encontro por não serem perfeitos.


1 Apenas para ilustrar, no livro As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain, o protagonista vê uma garota loira de olhos azuis e põe-se a desfilar todas as suas habilidades para conquistá-la: andar de ponta-cabeça, desenhar, etc., ao passo que a menina não sabe fazer nada além de sorrir.
2 Longe de mim afirmar que esse fator valha pouco. Apenas questiono se ele é tudo.

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