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sábado, 3 de março de 2012

Vida

(Dedicado a todos que, como eu, perderam alguém próximo)

O que é a vida? O que dela levamos? Como devemos passar nossos poucos dias sobre a terra? Como quase tudo, dispensamos-lhe tão pouca atenção... Vivemo-la muitas vezes à toa, mesmo desconhecendo nosso futuro. Mas a verdade, imutável, é que estamos a sua mercê, e cada dia que vemos nascer o Sol e rendê-lo a Lua é uma dádiva que se nos dá.

Ardis a vida arma para todos, no mais assombroso exemplo de indiscriminação. Não há um sequer, pobre ou rico, preto ou branco, homem ou mulher, jovem ou velho, sábio ou indouto, para o qual ela reserve tratamento distinto. Sua inexorabilidade é titã. É apenas quando ela nos visita que percebemos o quão desprevenidos estamos, ao nos espantarmos com a mensagem de uma fatalidade. E quão pungente é ter confirmada a péssima notícia. Custa-nos acreditar em tais fatos, pois a ceifa da vida é natural para os velhos e cansados, mas como associá-la a um jovem cheio de sonhos? Como aceitar que não tivemos tempo de falar certas coisas, fazer algumas outras? Parece-nos que todo o tempo foi muito pouco, quando na verdade poucas foram nossas atitudes.

A brevidade da vida é algo que nos espanta. De minha parte, a cada dia que vivo me dou conta disso. Umas vidas são mais breves que outras, e quem dera que as menos fecundas perecessem primeiro. Mas quem somos nós para tomarmos o passado e o presente por futuro? Quem sabe se o mau não se torna bom, ou se o justo converte-se em ímpio? Talvez a vida antecipe os fatos. Mas, e se não for? Como seria a continuação da vida interrompida? Seria boa? Seria má? Feliz? Quem sabe frustrada... A dúvida nos atormenta e sempre será nossa indesejável companheira.

Presume-se que o temor da morte seja fortalecido pelas incertezas do além. Enquanto há vida, podemos nos acercar de outrem, correr em socorro, trocar cartas. Mesmo a distância apequena-se quando há vida. Sua ausência, no entanto, desencadeia nossos temores do “para sempre”. Não o “para sempre” do regozijo dos contos, mas o da amarga separação que não queríamos, agravada quando pegos de assalto.

É essa incerteza que nos faz ter tantas crenças para o pós-vida. Mas qual é a escorreita? Afinal, quem de lá voltou para corroborar alguma? Flutuamos ao sabor da diversidade, e isso apenas é bom porque orientamos nossas ações baseados no que acreditamos que nos aguarda. Ou simplesmente centramos na subsistência de nossa matéria a duração etérea da existência.

Quanto aos que se foram, basta que deles lembremos ternamente, oxalá sem comiseração, purificados como ocorre quando se sai dessa vida. Aos bons, o consolo de que a catarse da passagem não será necessária, pois foram benquistos em vida. A nós, resta-nos descobrir nossos próprios caminhos e guiarmo-nos através deles para o fim certo.

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