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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Educação: importante ou prioritária?

(Originalmente escrio para submissão a concurso literário)

O garoto pára e olha as mãos feridas, gretadas, cheias de calos. Apóia-se ao cabo da enxada a fim de descansar um pouco. Trabalha há horas e falta ainda muito para terminar o serviço. Começa a pensar. Vida triste a sua. Acorda cedo, trabalha muito, come pouco – e mal –, dorme cansado. Todo dia a mesma rotina. Deveria haver um jeito de melhorar as coisas. Trabalhar menos, comer bem, dormir tranqüilo. Mas não sabe como. Não tem nem mesmo certeza disso. Olha seus companheiros: alguns da sua idade, outros velhos. Há ainda mais novos. Teve pena deles. Uma multidão que se estende pela lavoura, sobre os morros, detrás das plantações. Gente pobre, sofrida. Eram assim todas as pessoas que conhecia. Nasciam, cresciam e morriam naquele lugar, do mesmo jeito triste. E pensava. Duvidava que conseguisse envelhecer ali, envergando o corpo, quebrando os ossos, secando a carne. Mas ao mesmo tempo não sabia como fugir àquilo, libertar-se. Pensou nos filhos. Que seria deles? Viveriam a mesma vida que a sua? Principiou voltar ao trabalho. Será que algo poderia acontecer para mudar suas vidas? O que seria tão poderoso a ponto de mudar destinos? Voltou a ferir a terra, esquecendo por hora a preocupação causada por seus pensamentos.

* * *

O rapaz repousa os óculos sobre o livro que está lendo e olha um instante pela vidraça. Admira os prédios fortes e altos que um dia ele mesmo projetará. Estuda com esse intento. Distraído, imagina a paisagem diferente; sem as construções, sem os automóveis. Povoa o cenário com vastas plantações e muitos trabalhadores braçais. Assim imaginava as histórias às quais acostumou-se a ouvir desde criança, contadas por seu avô. Deveria ser difícil viver daquele modo. Nunca visitara um campo semelhante, por isso imaginava segundo o relato que lhe faziam. Alegrava-se por viver outra realidade. Era cuidar para mantê-la. Põe os óculos e retorna ao livro. Importante continuar. Projetar prédios fortes, prédios altos.

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Duas gerações e um abismo. Duas gerações e um abismo transposto por uma ponte chamada Educação. Ponte que vira caminho para seguir adiante o que se sabe ser certo. Prioritária onde não há perspectivas, onde grassa a desesperança, torna-se importante nos lugares que ajudou a transformar. Urge por libertar as pessoas das trevas da ignorância e conclama aos libertos que não se afastem a fim de conservar o bem alcançado. Tanto debatem-se os governantes para resolver inúmeros problemas e esquecem-se que a causa da Educação, resolvida, põe fim a questões igualmente antigas e importantes. Sem ela, todas as soluções são paliativas, pois a Educação não é apenas um troféu para regozijo individual, mas um agente transformador da sociedade que nela investe.

Ora importante, ora prioritária, a Educação é um elemento do qual não se pode prescindir na construção de uma sociedade mais justa, equânime, forte e promissora.

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