(Originalmente escrio para submissão a concurso literário)
O garoto pára e olha as
mãos feridas, gretadas, cheias de calos. Apóia-se ao cabo da enxada
a fim de descansar um pouco. Trabalha há horas e falta ainda muito
para terminar o serviço. Começa a pensar. Vida triste a sua. Acorda
cedo, trabalha muito, come pouco – e mal –, dorme cansado. Todo
dia a mesma rotina. Deveria haver um jeito de melhorar as coisas.
Trabalhar menos, comer bem, dormir tranqüilo. Mas não sabe como.
Não tem nem mesmo certeza disso. Olha seus companheiros: alguns da
sua idade, outros velhos. Há ainda mais novos. Teve pena deles. Uma
multidão que se estende pela lavoura, sobre os morros, detrás das
plantações. Gente pobre, sofrida. Eram assim todas as pessoas que
conhecia. Nasciam, cresciam e morriam naquele lugar, do mesmo jeito
triste. E pensava. Duvidava que conseguisse envelhecer ali,
envergando o corpo, quebrando os ossos, secando a carne. Mas ao mesmo
tempo não sabia como fugir àquilo, libertar-se. Pensou nos filhos.
Que seria deles? Viveriam a mesma vida que a sua? Principiou voltar
ao trabalho. Será que algo poderia acontecer para mudar suas vidas?
O que seria tão poderoso a ponto de mudar destinos? Voltou a ferir a
terra, esquecendo por hora a preocupação causada por seus
pensamentos.
* * *
O rapaz repousa os
óculos sobre o livro que está lendo e olha um instante pela
vidraça. Admira os prédios fortes e altos que um dia ele mesmo
projetará. Estuda com esse intento. Distraído, imagina a paisagem
diferente; sem as construções, sem os automóveis. Povoa o cenário
com vastas plantações e muitos trabalhadores braçais. Assim
imaginava as histórias às quais acostumou-se a ouvir desde criança,
contadas por seu avô. Deveria ser difícil viver daquele modo. Nunca
visitara um campo semelhante, por isso imaginava segundo o relato que
lhe faziam. Alegrava-se por viver outra realidade. Era cuidar para
mantê-la. Põe os óculos e retorna ao livro. Importante continuar.
Projetar prédios fortes, prédios altos.
* * *
Duas gerações e um
abismo. Duas gerações e um abismo transposto por uma ponte chamada
Educação. Ponte que vira caminho para seguir adiante o que se sabe
ser certo. Prioritária onde não há perspectivas, onde grassa a
desesperança, torna-se importante nos lugares que ajudou a
transformar. Urge por libertar as pessoas das trevas da ignorância e
conclama aos libertos que não se afastem a fim de conservar o bem
alcançado. Tanto debatem-se os governantes para resolver inúmeros
problemas e esquecem-se que a causa da Educação, resolvida, põe
fim a questões igualmente antigas e importantes. Sem ela, todas as
soluções são paliativas, pois a Educação não é apenas um
troféu para regozijo individual, mas um agente transformador da
sociedade que nela investe.
Ora importante, ora
prioritária, a Educação é um elemento do qual não se pode
prescindir na construção de uma sociedade mais justa, equânime,
forte e promissora.
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