Titulo: Uma Breve História do Mundo
Autor: Geoffrey Blayney
Editora: Fundamento
ISBN: 85-88350-77-7
A disciplina de história figura entre
as menos interessantes do ensino regular, disputando com a geografia
o título de mais maçante. Poucas são as pessoas que se sentem
atraídas por elas. Se matérias que possuem grande aplicação
prática, como matemática e química, já não despertam a atenção
dos alunos, quem dirá história.
Mas um dos motivos da falta de
prestígio do ensino de história deve-se ao fato de ela ser tratada
como um amontoado desconexo de datas, personagens, lugares e
acontecimentos alheios a nossa atual realidade. Desse modo, é vista
apenas como uma história dos outros, e não como uma história da
raça humana. Quem se aventurar a ler Uma Breve História do Mundo,
de Geoffrey Blainey, experimentará uma sensação completamente
diferente. Deixando de lado datas precisas e detalhes que mais
distraem do que informam, o autor constroi magistralmente a história
da humanidade desde o homem primitivo até o atual cenário
tecnológico. Livre do tom formal dos livros tradicionais, que
parecem apenas relatar uma cartilha com a qual não se tem
intimidade, Blainey aproxima seu discurso de uma conversa informal,
mas de tamanha convicção que impressiona. Mesmo perseguindo o
caminho da neutralidade, por vezes é possível perceber uma crítica
ligeira e inteligente.
Em Uma Breve História do Mundo, nada
é desprovido de sentido. O céu não é apenas um ente da natureza,
mas a cúpula salpicada de luzes que acompanhava o embevecido homem
primitivo nas noites escuras, posteriormente guiando-o nos mares
errantes e iluminando com sua lua cheia as colheitas noturnas – daí
o surgimento natural da astronomia/astrologia e as religiões que
adoram os astros. Os rios não são apenas acidentes geográficos,
mas fontes naturais de vida que, além de saciar a sede, fertilizavam
os solos com suas inundações periódicas, além de servir de meio
de transporte aos primeiros marujos destemidos – por isso muitas
civilizações se instalaram próximo a eles. Os primeiros grandes
grupos de homens não sumiram misteriosamente, mas esgotaram os
recursos naturais em uma época em que não detinham o conhecimento e
tecnologia para melhor aproveitá-los. O milho não é apenas o
cereal desconhecido das Américas, mas um produto valioso que rendia
muito mais que os grãos consumidos na Europa, afastando os períodos
constantes de fome. A máquina a vapor não é apenas um triunfo da
engenharia, mas um meio de transportar carnes e alimentos frescos de
um lugar a outro, além de permitir que as pessoas, antes fadadas a
nascer e morrer em um mesmo lugar, pudessem deslocar-se a lugares
distantes. O desenvolvimento das comunicações não é um simples
deslumbre da vida moderna, mas um fator que diminuiu o mundo –
antes isolado por acidentes naturais e longas distâncias –,
constituindo-se como amarras invisíveis entre os blocos de terra que
flutuam nos oceanos, reproduzindo o bloco pangeia
original.
O
leitor talvez sinta falta do detalhamento de algumas passagens
históricas, como o império macedônico de Alexandre, o Grande, ou
as Cruzadas, fatos talvez abordados mais apropriadamente em versões
futuras do livro. De qualquer modo, o apanhado geral de toda a
história do mundo em apenas um livro, no qual os fatos estão todos
encadeados, faz o leitor se
sentir vivendo aquele momento e acreditar que, no futuro, nossos dias
serão contados em algum livro de história.
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