Pesquisar este blog

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Jogos

Queria saber jogar alguma coisa. Participar de uma equipe, disputar campeonatos, possuir troféus (minhas conquistas foram todas intelectuais, com pouca adrenalina e pouca torcida, normalmente eu lutando comigo mesmo). Mas não sei jogar nada – na verdade, não posso – , então, não sei o que é nada disso. Imagino que uma vitória de virada deve ser emocionante. Costumo dizer que meu gene relacionado a esportes veio desativado de fábrica. Jogos com bolas são os piores – ou seja, um mínimo de oitenta por cento das modalidades esportivas. E não apenas os jogos, digamos, cinéticos, mas também os games eletrônicos (nunca consegui passar da primeira fase daquele Mario Bros em duas dimensões – que saltava buracos e atingia blocos flutuantes com a cabeça). Os que ainda escaparam foram dama e xadrez (embora não seja tão bom neles quanto gostaria).

Antes que alguém levante a mão para afirmar que não me dediquei o suficiente, devo dizer que sim, tentei. Enquanto iniciantes – mesmo os que não estão mais nos primeiros aninhos de vida – apresentam uma curva de aprendizado bastante promissora, alguns meses de prática de um jogo em primeira pessoa me fez melhorar algo em torno de vinte por cento. É pouco. Com esse aproveitamento, se eu quiser ser bom em algum tipo de jogo, teria que dedicar um tempo tão grande a ele que não conseguiria fazer mais nada. E fazer apenas uma coisa é uma ideia que definitivamente não me agrada.

Mas felizmente as pessoas são diferentes, e há aqueles que parecem ter nascido para serem jogadores, atletas, pessoas que brilham nos estádios e ginásios mundo afora. Como minha inaptidão para esportes me excluiu de suas emoções logo cedo, nunca fui muito fã de acompanhar campeonatos, mas recentemente tenho me habituado – voluntariamente! a vê-los – alguns, ao menos. E não posso negar que há grandes emoções. Isso porque sabemos que os que foram classificados para importantes eventos – como a Copa do Mundo de Futebol ou as Olimpíadas batalharam arduamente para estar ali. O corolário de ser atleta é uma vida de abnegações – enquanto seus [poucos] amigos vão para a night, o jovem atleta tem que dormir cedo; enquanto a turma viaja nas férias, o atleta tem que se preparar para um campeonato que está próximo. E para ser um atleta de elite então! Haja renúncia.

A Olimpíada de Londres trouxe grandes momentos. Momentos de euforia e momentos de tristeza. Instantes de surpresa e outros de decepção. A estatística (sempre ela!) apontava que o Brasil ganharia muitas medalhas, uma vez que será o próximo país-sede. Bobagem! Todo mundo viu que os números não são confiáveis. Nossos favoritos sucumbiram, ao passo que desconhecidos brilharam. Como não lembrar da medalhista do judô, nosso primeiro ouro, nordestina e guerreira – a distinção entre essas duas palavras muitas vezes é tênue , afirmando que continuará em sua cidade natal, a fim de contribuir na formação de jovens que têm poucas oportunidades? (O tão idolatrado give back da cultura americana) Como não sentir muito pela ausência do ouro na ginástica? E a alegria inesperada do sucesso nas argolas? Como não se chatear por mais uma escapada – tão próximo! do título inédito para o futebol brasileiro? Como não vibrar junto com a seleção feminina de vôlei de quadra na conquista mais do que emocionante? E, na mesma medida, aquietarmo-nos e darmos vez à torcida russa no equivalente masculino? O salto com vara e a natação, promessas certas, negaram-se a se cumprir. Daqui a quatro anos, quem sabe.

Sabemos que o Brasil não é um país dos esportes – aliás, o Brasil não é um país de muitas coisas. Em alguns países o exemplo por excelência é os Estados Unidos –, o esporte é prática integrante da educação aplicada nas escolas. Por aqui, é um meio de subsistência onde normalmente as pessoas caem de paraquedas. Quem tenta viver do esporte encontra uma série de dificuldades, pois os patrocínios são poucos e as condições muitas vezes são precárias. Mas tenho dúvidas se apenas isso justifica nossa colocação tão distante dos primeiros colocados no quadro geral de medalhas. Sem dúvida patrocínio e boa infraestrutura são fundamentais, mas nunca há apenas um fator determinante sobre o que quer que seja. Se o único problema fosse patrocinadores, então o futebol masculino seria invencível e sabemos que ele está muito, muito longe disso. O vôlei não tem o mesmo destaque que a bola nos pés, no entanto, tem sido a fonte isolada de alegrias para os [tele]espectadores tudo bem, esqueçamos apenas a derrota do time masculino na final de Londres. Detemos vários títulos mundiais em categorias diversas, mas não conseguimos reproduzir os bons resultados nos jogos olímpicos. Por vezes podemos ver o semblante de desolação dos jogadores ou notar o nervosismo reinante diante da derrota iminente. Em geral, os brasileiros (atletas ou não) sabem lidar muito mal com as emoções – no caso dos favoritos, com autoconfiança exagerada; para os opacos, falta da frieza necessária para melhorar. Basta observar a enorme importância que a torcida exerce sobre as equipes.

Sabemos que o Brasil possui excelentes atletas, basta que eles mesmos se encarreguem de deixar isso patente para o mundo. Há um sentimento generalizado nesse país de que “mais ou menos é bom”. Não é. Para ser bom deve-se primeiro reconhecer que não se alcançou o nível excelente e a partir daí buscá-lo. Que os erros desses últimos jogos sirvam de lição para não mais repeti-los quando, em nossa casa, daqui a quatro anos, os “campeões voltarem”.

2 comentários:

  1. Realmente ... o controle emocional é fundamental e vemos claramente que muitos atletas brasileiros tem problemas com isso...O jeito pra 2016 é psicologo pra todo mundo :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O pior é que muitos já tem psicólogo, mas talvez nao tenham focado no ponto "perder". Vai saber...

      Excluir