Queria saber jogar alguma coisa.
Participar de uma equipe, disputar campeonatos, possuir troféus
(minhas conquistas foram todas intelectuais, com pouca adrenalina e
pouca torcida, normalmente eu lutando comigo mesmo). Mas não sei jogar nada –
na verdade, não posso – , então, não sei o que é nada disso.
Imagino que uma vitória de virada deve ser emocionante. Costumo
dizer que meu gene relacionado a esportes veio desativado de fábrica.
Jogos com bolas são os piores – ou seja, um mínimo de oitenta por
cento das modalidades esportivas. E não apenas os jogos, digamos,
cinéticos, mas também os games
eletrônicos (nunca consegui passar da primeira fase daquele Mario
Bros em duas dimensões – que saltava buracos e atingia blocos
flutuantes com a cabeça).
Os que ainda escaparam foram
dama e xadrez (embora não seja tão bom neles quanto gostaria).
Antes
que alguém levante a mão para afirmar que não me dediquei o
suficiente, devo dizer que sim,
tentei. Enquanto iniciantes – mesmo os que não estão mais nos
primeiros aninhos de vida – apresentam uma curva de aprendizado
bastante promissora,
alguns meses de prática de um jogo em primeira pessoa me fez
melhorar algo em torno de vinte por cento. É pouco. Com
esse aproveitamento, se eu quiser ser bom em algum tipo de jogo,
teria que dedicar um tempo tão grande a ele que não conseguiria
fazer mais nada. E fazer
apenas uma coisa é uma ideia
que definitivamente não me agrada.
Mas
felizmente as pessoas são diferentes, e há aqueles que parecem ter
nascido para serem jogadores, atletas, pessoas que brilham
nos estádios e ginásios mundo afora. Como
minha inaptidão para esportes me excluiu de suas emoções logo
cedo, nunca fui muito fã de acompanhar campeonatos, mas recentemente
tenho me habituado – voluntariamente! –
a vê-los – alguns, ao menos.
E não posso negar que há
grandes emoções. Isso porque sabemos que os que foram classificados
para importantes eventos – como a Copa do Mundo de Futebol ou as
Olimpíadas – batalharam
arduamente para estar ali. O
corolário de ser atleta é uma
vida de abnegações – enquanto seus [poucos]
amigos vão para a night,
o jovem atleta tem que dormir cedo; enquanto a turma viaja nas
férias, o atleta tem que se preparar para um campeonato que está
próximo. E para ser um
atleta de elite então! Haja renúncia.
A
Olimpíada de Londres trouxe grandes momentos. Momentos
de euforia e momentos de tristeza. Instantes de surpresa e outros de
decepção. A estatística
(sempre ela!) apontava que o Brasil ganharia muitas medalhas, uma
vez que será o próximo
país-sede. Bobagem!
Todo mundo viu que os números não são confiáveis. Nossos
favoritos sucumbiram, ao
passo que desconhecidos
brilharam. Como não lembrar
da
medalhista do judô, nosso primeiro ouro, nordestina e guerreira –
a distinção entre essas duas palavras muitas vezes é tênue –,
afirmando que continuará em
sua cidade natal, a fim de contribuir na formação de jovens que têm
poucas oportunidades? (O tão
idolatrado give back
da cultura
americana)
Como não sentir muito pela
ausência do ouro na ginástica? E a alegria inesperada do sucesso
nas argolas? Como não se
chatear por mais uma escapada – tão próximo! –
do título inédito para o futebol brasileiro? Como
não vibrar junto com a seleção feminina de vôlei de quadra na
conquista mais do que emocionante? E, na mesma medida, aquietarmo-nos
e darmos vez à torcida russa no equivalente masculino? O
salto com vara e a natação, promessas certas, negaram-se a se
cumprir. Daqui a quatro anos, quem sabe.
Sabemos
que o Brasil não é um país dos esportes – aliás, o Brasil não
é um país de muitas coisas. Em alguns países –
o exemplo por excelência
é os Estados Unidos –,
o esporte é prática
integrante da educação aplicada nas escolas. Por aqui, é um meio
de subsistência onde normalmente as pessoas caem de paraquedas. Quem
tenta viver do esporte encontra uma série de dificuldades, pois os
patrocínios são poucos e as condições muitas vezes são
precárias. Mas tenho dúvidas
se apenas isso justifica nossa colocação tão distante dos
primeiros colocados no quadro geral de medalhas. Sem dúvida
patrocínio e boa infraestrutura são
fundamentais,
mas nunca há apenas um fator determinante sobre o que quer que seja.
Se o único problema fosse
patrocinadores, então o futebol masculino seria invencível –
e sabemos que ele está
muito, muito longe disso. O
vôlei não tem o mesmo destaque que a bola nos pés, no entanto, tem
sido a fonte isolada de alegrias para os [tele]espectadores
– tudo
bem, esqueçamos apenas
a derrota do time masculino
na final de Londres.
Detemos vários títulos
mundiais em categorias diversas, mas não conseguimos reproduzir os
bons resultados nos jogos olímpicos.
Por vezes podemos ver o
semblante de desolação dos jogadores ou notar o nervosismo reinante
diante da derrota iminente. Em
geral, os brasileiros (atletas ou não) sabem lidar muito mal com as emoções – no
caso dos favoritos, com autoconfiança exagerada; para os opacos,
falta da frieza necessária
para melhorar. Basta
observar a enorme importância que a torcida exerce sobre as equipes.
Sabemos
que o Brasil possui excelentes atletas, basta que eles mesmos se
encarreguem de deixar isso patente para o mundo. Há um sentimento
generalizado nesse país de que “mais ou menos é bom”. Não é.
Para ser bom deve-se primeiro reconhecer que não se alcançou o
nível excelente e
a partir daí buscá-lo. Que
os erros desses últimos jogos sirvam de lição para não mais
repeti-los quando, em nossa casa, daqui a quatro anos, os “campeões voltarem”.
Realmente ... o controle emocional é fundamental e vemos claramente que muitos atletas brasileiros tem problemas com isso...O jeito pra 2016 é psicologo pra todo mundo :)
ResponderExcluirO pior é que muitos já tem psicólogo, mas talvez nao tenham focado no ponto "perder". Vai saber...
Excluir