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sábado, 28 de abril de 2012

Timidez

Li há algum tempo uma reportagem que falava sobre timidez. Ela se referia à “vingança dos tímidos”, numa alusão ao fato de os tímidos serem normalmente perseguidos e desdenhados. Ora, mas quem disse que timidez é de todo mal? Ela, juntamente com dias de chuva e água natural (não-gelada), fazem parte de um grupo de coisas que as pessoas atacam como se fossem anomalias da Inquisição.

Devemos dizer que há dois tipos de timidez, basicamente. Uma é aguda, chegando a ser patológica. Essa merece ser avaliada para um possível tratamento, pois normalmente atrapalha o desempenho em funções normais da vida diária. Mas o segundo tipo é antes uma característica de algumas pessoas do que um defeito. Consiste na falta de capacidade de manifestar-se publicamente em determinadas situações ou na dificuldade de conversar com o sexo alheio. A melhor definição, ao menos para o primeiro caso, talvez fosse “reservados”.

À primeira vista, quando se fala de “falta de capacidade” nos vem logo à mente que isso é algo de ruim. Mas, antes de tirarmos conclusões precipitadas, devemos avaliar a situação. Na verdade, a pergunta que deve ser feita é: será que os extrovertidos são tão bons assim?

A habilidade em expressar-se está diretamente relacionada ao grau de segurança do falante. Se alguém tem desenvoltura para dançar em público, falar abrobrinhas ou caçoar de outras pessoas, é porque está seguro de que será aprovado pela audiência – ou pelo fato de desprezá-la ao máximo. Do mesmo modo, se alguém se sente à vontade para explanar um trabalho de pesquisa a um grande público, ali não impera a timidez. O temor de não ser aceito, o deslocamente social, é o que gera desconfiança, incerteza e timidez, influenciando o nível de “incapacidade” de se expressar perante outrem.

Tenho observado comportamentos ao longo de anos. O que percebi é que os extrovertidos dos anos escolares muitas vezes não conseguem se valer desse seu “dom”, falhando em desafios que, ao menos para eles, deveriam ser simples, como uma entrevista para admissão de emprego ou coisa parecida. Ali não é a zona de conforto deles, que desperdiçaram muito tempo apenas dedicando-se a entreter colegas em momentos de vadiagem. Ali são reis, mas em situações que realmente importam na vida, tornam-se cabisbaixos e impotentes como os tímidos que desprezavam.

Por outro lado, não são poucos os rotulados tímidos que facilmente enveredam pelos caminhos da ascensão e chegam a postos elevados em seus trabalhos. Isso se deve ao fato de, longe dos holofotes, utilizarem seu tempo para estudar e aprender com dedicação, o que lhes confere segurança na área em que decidem atuar. Essa segurança permite que obtenham sucesso quando for preciso expor suas habilidades. E até diminuir sua timidez com isso (existe ex-tímido, mas ex-extrovertido desconheço).

Há apenas uma arena onde os tímidos invariavelmente sofrem reveses. Esse é o campo do relacionamento amoroso. Na cultura em que hoje vivemos, ganha quem se expõe. A preferência feminina é pelos que falam em demasia – não importando muito o quê. Esse aspecto acua o tímido, pois não há como inferir o sucesso ou rejeição nesse quesito, uma vez que depende muito mais da outra parte. Não é como uma disciplina que se estuda, mas é antes um exercício de montagem realizado no escuro. O que as mulheres deveriam atentar, porém, é que os extrovertidos são dados a aventureiros, pois conquistam fácil o coração das moças e seguem colecionando paixões como trofeus em prateleiras. Já os tímidos, por serem normalmente mais sensíveis, valorizarão muito mais o relacionamento que lhes custou a exposição a um possível vexame. Constituem assim melhores amantes, oferecendo companheirismo e atenção em maior intensidade (algo que muitas mulheres só percebem como essencial após o primeiro divórcio).

Embora tímidos e extrovertidos nunca se entendam completamente, um pouco de empatia por parte de ambos é fundamental para que um aprenda com o outro a arte de tirar proveito de cada temperamento.

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