Há uma
corrente ideológica que defende uma sociedade sem escolas. Concordo. Concordo
que as escolas como existem atualmente sejam banidas. Elas são inúteis. A única
função dessa escola que aí está é ensinar o aluno a ler e escrever. Não me
refiro à atividade intelectual de compreender um texto e produzir discursos.
Refiro-me à capacidade motora de juntar as letras e pronunciá-las ou colocá-las
no papel. Fora isso, a escola atual não serve para nada.
O principal
fator do fracasso da escola são os professores. Na sociedade moderna, a
profissão de mestre sofre de discriminação e total descrédito. Ser professor é
a saída para aqueles que não sabem para onde ir. Apenas aqueles vestibulandos
que querem tão somente ingressar na universidade, livres de qualquer interesse,
escolhem cursos de licenciatura. São pouco concorridos e de fácil aprovação.
Disciplinas que são cobradas nas modalidades bacharelado do mesmo curso são
suprimidas ou vistas sem qualquer profundidade. Quando se formam, os caminhos
possíveis são: se bons alunos, vão trabalhar lecionando em escolas
particulares, onde tem de submeter-se ao método da instituição, ou seja, não
tem muita liberdade de praticar coisas novas; se maus alunos, vão trabalhar em
qualquer outra profissão ou, pior, serão professores da rede pública de ensino.
Ora, o que
esperar de um professor que, enquanto aluno, desprezava seus mestres, cabulava
aulas, não dava valor à atividade de ensino? Como acreditar que uma pessoa
assim formada queira fazer alguma diferença na área de ensino? Ele apenas
seguirá a dormência dos atuais professores, repetindo técnicas centenárias.
Reflexo disso é o fato de, mesmo em grandes e “modernas” escolas, o professor
ainda utilizar a lousa (às vezes até com giz!) para copiar o assunto, enquanto
os alunos o copiam em seus cadernos. Existe maior perda de tempo do que essa?
Outros que
não vem ajudando muito são os egressos dos cursos de pedagogia. Em vez de
utilizarem as técnicas e métodos estudados durante os anos de curso, apenas
dedicam-se a atividades burocráticas nas escolas em que trabalham. Com pouco
conhecimento de causa (não dominam o assunto que ensinam), são os responsáveis
pelos primeiros aprendizados das crianças. Deveriam dedicar-se a verificar a
eficácia das aulas e se os alunos estão realmente aprendendo o assunto.
Com relação
ao quesito tecnologia, muitos são os que depositam nos meios eletrônicos o
trunfo para um bom aprendizado. Reconheço que a inovação tecnológica é de um
apoio excepcional tanto para o professor quanto para o aluno, mas
definitivamente não é o principal fator de sucesso. Quem pensar assim deve
estar pronto para justificar qual a razão do sucesso dos estudantes de outrora,
em tempos em que não havia computadores
e Internet. A fórmula na verdade é bem simples: um professor que domina o
assunto e consegue transmiti-lo aos alunos (dominar é importante, pois permite
que o docente aborde o problema de várias maneiras, consiga dirimir todas as
dúvidas, pensar à frente e mostrar a realidade de uso do conhecimento) e alunos
que estudem. Para esse último item é necessário que os alunos sejam
estimulados, não através de gorjetas, mas mostrando-lhes que o estudo – ao
menos no mundo contemporâneo – é essencial em nossas vidas. O aluno deve ter
seu conhecimento verificado através de aplicações práticas, como aulas por eles
ministradas (por exemplo, dando-lhes a incumbência de ensinar um outro grupo) e
provas racionais – são ridículas as que exigem que se decorem idiotices, como a
tabela periódica. Afinal, na vida real, quando alguém precisa de algo desses, a
consulta sempre será permitida.
Também seria
necessário revisar o conteúdo ensinado em sala de aula. É de fundamental
importância um conhecimento, digamos, acadêmico de áreas diversas (afinal, como
alguém pode escolher que caminho seguir se não conhece nenhum?), mas também há
a necessidade de conhecimentos que sejam aplicáveis a sua vida imediatamente. É
o caso de educação financeira e práticas de vida saudável (alimentação e
atividade física). A escola deve, juntamente com seus pais, preparar o aluno
para participar da sociedade em que vive. O que vemos atualmente é que, após
formados, os ex-alunos dedicam-se a passar em algum concurso. Com esse intuito,
começam a estudas coisas que foram vistas na escola, mas que não passaram de
perda de tempo. Não a assimilaram porque não viam que faria diferença em suas
vidas. Na busca de um emprego, encontram motivação para estudarem e aprenderem.
Se é necessário que cheguem tão longe para enfim começarem a estudar, então
sim, eu concordo em abolirmos as escolas.
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