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domingo, 24 de junho de 2012

Hoje te amo, amanhã te odeio

Declarações de amor nos meios digitais nem sempre são verdadeiras. Muitas vezes prenunciam o fim de um relacionamento

Demonstrar de maneira pública a quantas anda um relacionamento não é novidade. Antigamente escrevia-se nos troncos das árvores os nomes dos enamorados e o símbolo do afeto: um coração atingido por uma flecha. Anos depois, dado o aumento da civilização e a redução do espaço verde, os muros e paredes foram tomados de pichações que duram muitos anos. Hoje é fácil encontrar declarações de desconhecidos de todos os tempos de que “duas pessoas se amam”.

Mas como entramos na década da velocidade e do público exacerbado, essas declarações migraram para o ambiente virtual. Não há mais desconhecidos que “se amam”, mas um anúncio em alto e bom som do status de um relacionamento de alguém. É como se dissessem: “Atenção, estou livre!”. O que se põe em um perfil na Internet tem mais validade que uma aliança. É também a verdadeira prova de compromisso, de relacionamento sério. É a mais nova forma de dizer “Acabou! Estou namorando”. Fotos de momentos felizes, de lugares para onde viajaram juntos, do outro, pipocam incessantemente, importunando quem não tem nada a ver com aquilo. Frases de apaixonados (normalmente esdrúxulas, como diria o grande poeta português1) são exibidas para quem quiser ver.

Mas, como diria o outro poeta2, de repente (e não mais que isso), em meio a fotos e frases românticas, surge o novo status: “relacionamento: solteiro”. Como assim? Acabou o encanto? “Do riso fez-se o pranto”? Difícil acreditar. Tudo estava tão bem... Será que estava mesmo?

Dizem as lendas e as estórias (às vezes a história também) que o amor é um sentimento sublime, puro, benigno, que tudo espera e tudo suporta. E ele acaba? Alguns dizem que sim, outros que não. Mas, se acaba, acaba assim tão rápido? Sem nem tempo para pensar, refletir? Bem, acredito que não. Provavelmenet acabe sim, se não houver chama que o alimente, não há como se sustentar. Mas seguramente não é rápido. A paixão, essa sim é rápida. Mas o problema que vejo com essas pessoas é outro. Não é nem de amor nem de paixão: é de sinceridade.

Relacionamentos não acabam da noite para o dia – a não ser aqueles que nunca deveriam ter começado. Ele vai se desgastando aos poucos. Incompatibilidades incontornáveis, orgulho, inconcessão, falta de companheirismo, princípios conflitantes, mudanças de atitudes (acredito mais em revelação do que em mudança), incompreensão. Tudo isso são coisas que degradam os sentimentos afetuosos. Ora, isso não ocorre da noite para o dia. Então por quê, em questão de horas, as fotos e declarações dão lugar a uma notificação de “estou livre”?

Talvez haja dois motivos para isso. Ou a pessoa quer fazer crer que está em um relacionamento estável ou quer convencer-se de que tudo está bem. Pessoas que se enquadram no primeiro caso sofrem necessidade de aceitação. Sentem-se acossadas por uma “sociedade” que lhes cobra ter alguém para amar – se essa sociedade existe, é tão forte a ponto de mandar em sua vida particular? Ou isso é uma justificativa para suas fraquezas? Você não é nenhuma personalidade famosa. Guarde sua vida amorosa para você mesmo se falar de seu amor é pura farsa.

As que aderem ao segundo motivo podem sofrer de problemas piores. Aceitam manter uma relação sabidamente insustentável por algum motivo desconhecido. Talvez queiram fazer valer a energia que gastaram para engatar a relação. Ou pior, acham que finginddo felicidade, fugindo dos problemas reais, evitando encará-los, eles se resolverão sozinhos ou magicamente. Não, criança. Se você não tomar uma decisão e levá-la a cabo, seu sofrimento não terá fim. Tenha a coragem de fazer você mesma feliz. Não é possível enganar-se a si mesma, e você sabe disso. Enquanto você segue sofrendo apenas para não estar sozinha, joga fora a oportunidade de ser feliz com alguém que pode estar próximo.

E sigamos acompanhando os novos status em nossa rede social preferida.

2Vinícius de Moraes, em Soneto de Separação

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